A pauta dos artigos que trago é sempre definida por meus clientes de Coaching: quando algum tema começa a se repetir, como foi o caso, por exemplo, de Segurança Psicológica no Trabalho e Psicopatas Corporativos , alguma coisa parece não estar funcionando. Depois de todas as alegrias e dificuldades com o Home Office, quando a maioria dos colaboradores já parecia adaptada, eis que surge um problema: a quantidade excessiva de reuniões online tem provocado muita dor de cabeça – literalmente!
Nas últimas semanas alguns clientes desmarcaram sessões ou interromperam na metade por causa de enxaqueca. Não uma, mas várias vezes.
Quando conversamos sobre o assunto, todos disseram a mesma coisa – que o dia tinha sido muito difícil porque tinham participado de reuniões, uma após a outra, sem tempo nem para processar ou discutir (nem ir ao banheiro!). Um deles disse que só naquele dia participara de oito encontros online com equipes diferentes.
Absolutamente exaustivo, segundo ele.
Desconforto físico
Ficar diante do computador o dia todo já não é fácil. Mas ficar no computador o dia todo, com fones de ouvido, mantendo a postura e a atenção constante é pedir demais. Mesmo porque o uso excessivo de fones de ouvido pode causar danos, não só à audição, como também à saúde emocional e mental ao aumentar o stress e a ansiedade.
Segundo especialistas, o uso máximo diário desse acessório deve ser limitado a no máximo 60 minutos – isso quando o volume máximo for menor que 80 decibéis (melhor se for 60). O ideal é que a cada meia hora o usuário faça pausas de 10 minutos, principalmente se precisar ficar mais tempo.
Vale a informação de que cerca de 5% das perdas de audição no Brasil estão relacionadas ao mau uso dos fones de ouvido, de acordo com estimativa da OMS (Organização Mundial de Saúde).
Mas não é só. Horas seguidas diante do computador também trazem prejuízo ao corpo (dor nas costas, ombros, cabeça, tendinite e fadigas musculares) e aos olhos, já que piscamos menos, o que causa ressecamento da córnea e cansaço visual – olhar continuamente para a tela do computador exige um foco enorme, mais atenção e dedicação.
Precisa mesmo de uma reunião?
Uma grande parte dos trabalhadores em Home Office tem a agenda online bloqueada por reuniões no começo da semana. Qualquer necessidade fica para depois.
O assunto ficou tão recorrente que abri as sessões de Coaching especificamente para discutir e medir a real necessidade desses encontros online da empresa. Havia uma pauta? Essa pauta era divulgada antes? A presença de cada participante era mesmo necessária? O assunto era tão importante mesmo? Poderia ter sido resolvido por outro meio (e-mails, WhatsApp, telefone, etc)?
Estendi a pesquisa para outras frentes – Coaches, conhecidos, amigos, profissionais de Rh – e nas conversas chegamos a uma mesma conclusão:
todos sentimos falta da máquina de café!
Se relembrarmos como era a vida nas empresas antes da pandemia, muitas decisões foram tomadas no corredor, entre um café e outro; informações foram trocadas; feedbacks foram dados; trabalhos revistos; atualizações feitas. Necessariamente não precisávamos de reuniões a cada mudança de opinião. Bastava um almoço.
A falta desse convívio direto está afetando todos os colaboradores, que se sentem isolados e, muitas vezes, deprimidos.
Ficar em casa é bom? Ótimo! Mas somos seres sociais e precisamos da proximidade física, por mais difícil que possa parecer. Precisamos da troca de energia, das batalhas diárias. E muitas reuniões são feitas online para compensar essa perda. Não por necessidade.
Impacto na produtividade
As pessoas contratadas por CLT são orientadas pelo RH a não fazerem horas extras e a consultarem antes de usar o banco de horas, o que é correto e compreensível. No entanto, ao dedicar a maior parte das horas trabalhadas a reuniões, não encontram outra saída a não ser executar algumas tarefas fora do expediente – relatórios, e-mails, planilhas, textos, organização – que acabam sendo realizados quando a câmera do computador é desligada.
Daí muitos colaboradores reclamarem que o fluxo de trabalho aumentou muito com o Home Office – as chamadas horas úteis não são necessariamente dedicadas à execução das tarefas, mas à discussão de como fazer as tarefas. Gasta-se mais tempo nas discussões dos processos do que nos projetos.
Como diz um Coachee,
“nas reuniões de alinhamento todo mundo dá opinião, discute-se muito tempo, não se chega a uma conclusão e outra reunião é marcada para o mesmo alinhamento”.
Fato é que as reuniões online cansam muito mais que as presenciais. E, como se não bastasse, ainda há quase que uma obrigação dos líderes de fazerem happy hour e “café” para o time interagir. Chegou a um ponto em que as pessoas entram, não ligam a câmera e fingem que estão lá. Exaustão.
Talvez seja preciso lembrar que a câmera não substitui a presença real, e querer criar isso a qualquer preço só provoca desgaste. Definitivamente um encontro online não substitui um encontro presencial.
Melhor repensar algumas reuniões.
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