Nas últimas semanas, assistimos ao escândalo dos gastos do Governo Bolsonaro com alimentos para consumo em órgãos e instituições públicas. Foram R$ 1,8 bilhão gastos em alimentos em 2020. O gasto de R$ 15 milhões com leite condensado foi um dos itens que mais chamou a atenção da opinião pública. Outros gastos do Executivo Federal foram: R$ 2,2 milhões com chicletes, R$ 32,7 milhões com pizza e refrigerante e R$ 6 milhões com frutos do mar. Um dos órgãos com mais gastos foi o Ministério da Defesa, que somou R$ 2 milhões em despesa com vinhos. Os dados revoltam, sobretudo por vivermos uma conjunção de crises que deixa milhões de pessoas desempregadas e outras milhões passando fome.
Não se pode negar que órgãos e instituições públicas necessitam de insumos para trabalhar – materiais de escritório, itens básicos de copa etc. – contudo, é preciso diferenciar produtos necessários e produtos supérfluos. Outra questão é a compra de itens, através das licitações públicas, por preços acima do mercado. Esse Governo parece insistir em violar os cinco princípios básicos da Administração Pública, presentes no artigo 37 da Constituição Federal de 1988: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
Além de ignorar as regras e normas da Administração Pública, o Governo brinca com a vida dos brasileiros, que engolem seco ao ouvir o choro de fome de seus filhos.
O momento pandêmico que vivemos acelerou e aprofundou as desigualdades no Brasil e em muitas partes do mundo. Segundo a ONU, a América do Sul é um dos focos de tensão sociopolítica, em que “a pandemia secou as economias informais, diminuindo os meios de subsistência e o acesso aos alimentos e aumentando os riscos de proteção”. Os índices de fome e pobreza voltaram a subir. A pobreza extrema aumentou pela primeira vez depois de 22 anos. O desemprego e o subemprego também aumentaram. Mulheres e jovens que trabalham informalmente são os mais afetados pela pandemia. O fechamento das escolas afetou 91% dos estudantes, aumentando as desigualdades na aprendizagem e nas oportunidades.
A fome aguda é um dos problemas mais sérios. No mundo, ela atinge no mundo 77 milhões de pessoas de 22 países. Em 2014, o Brasil saiu do Mapa da Fome, depois de uma década de políticas públicas voltadas para a segurança alimentar e o combate à pobreza, agenda iniciada com o Programa Fome Zero. Desde o Governo Temer, assistimos aos cortes nos investimentos em políticas sociais e políticas para a segurança alimentar e nutricional. De lá pra cá, uma derrocada que parece não ter fim.
Encerramos 2020 com 14 milhões de desempregados em nosso país e começamos 2021 com 67,8 milhões perdendo o auxílio emergencial – segundo o Datafolha, essa transferência era a única fonte de renda para 36% dos beneficiários. Sem emprego, auxílio emergencial ou políticas sociais, a fome já não é mais uma ameaça, é um fato. Por isso, revolta saber que quem preside este país gasta milhões em leite condensado e chiclete, enquanto a favela vive de migalhas.
Ou nossos representantes se unem para encontrar estratégias e implementar políticas públicas que resolvam a pobreza e a fome no Brasil, ou continuaremos a escolher quem morre e quem vive.