Refletir sobre espiritualidade e a jornada da vida exige o desapego de ideias pré-concebidas, abstração de sentimentos pessoais e inspiração do real sentido da existência humana. Coletar informações, traduções e opiniões sobre ensinamentos e conselhos, examinar seu sentido, essência e deixar fluir longe de crenças para ser um genuíno interlocutor, requer mais do que vontade ou vocação, mas uma determinação em vencer temores, dúvidas e falhas. Saber caminhar entre a incerteza do entendimento e da certificação do cumprimento dos objetivos, mantendo a mente livre e independente da alienação do ego.
Incondicionalmente cada indivíduo faz essa jornada interior e expressa ao mundo o resultado que envolve todas as dimensões que são alimentadas pela dualidade de sentimentos como medo e coragem, excitação e ponderação, certezas e dúvidas. Jesus enfrenta três enormes dilemas em seu retiro. Buda, oito durante seu despertar meditativo. Espectros em sua personalidade que os tentam a dissuadir de seus propósitos lançando a justificativa da autopreservação, comodidade e benefícios. Um momento de solidão entre a fronteira do mundano e o transcendente ou entre a sombra e a luz existente em cada ser vivente?
Inconscientemente nos expressamos de diversas formas, com certeza não apenas com palavras ou gestos, mas através de todos os sentidos e fibras em nosso corpo, o que torna visível esse diálogo interno, aparente em nossas feições e comportamentos. Não é acaso que nesses momentos todos procurem um abrigo ou isolamento para evitar distrações ou interferências nesse mergulho interior, uma vez que a busca resida exatamente compreender o domínio do ego e como este interfere em nossa razão e sentimento. Não pense que seja uma jornada de negação, ao contrario, um árduo trabalho em permitir que a sombra se apresente e assim travar um dialogo silencioso entre o ser, e o dever ser. Uma luta entre o desejo simples de “ser” ou “existir”, e o sentimento de autopreservação contra o meio. Interessante à reflexão de Neville Goddard quando diz – “sempre que seu sentimento está em conflito com seu desejo, o sentimento será o vitorioso”.
Uma boa indicação de que o turbilhão dos acontecimentos ativam sentimentos nem sempre fáceis de controlar e avaliar, originando ações e condutas destrutivas que ferem o verdadeiro ser: o Self. Pense que você esta calmamente dirigindo seu carro em um dia ensolarado de domingo, tudo flui tranquilamente ate que alguém corta seu caminho ou invade seu espaço. Não é apenas aquela ação isolada que vem a tona, mas milhares de outras situações nas quais se criou um sentimento de invasão e abuso. Agora fica fácil entender a agressividade que se liberta e vem à tona em forma de berro, ameaça e de violência, pois é nesta hora que cedemos à tentação e ilusões. À vontade e o desejo de ser mais condizente com sua essência e espírito se desintegram no momentâneo prazer da vingança e da “justiça” com as próprias mãos, libertando todas as amarguras do ego para a ação.
Descobrir esse limite, essa pequena fronteira imaginaria requer desapego para quem se pensa que se é, pois não é uma tarefa fácil ou simples se reconciliar traumas e virtudes acumuladas em uma existência, mas realizar a jornada pode ser significativa quando se isola eventos específicos e se medita sobre sua natureza. Assim, seguindo um bom indicativo de Jiddu Krishnamurti:
** É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita. O Jornal 140 não se responsabiliza pela opinião dos autores deste coletivo.“Podemos ir longe, se começarmos de muito perto. Em geral começamos pelo mais distante, o “supremo princípio”, “o maior ideal”, e ficamos perdidos em algum sonho vago do pensamento imaginativo. Mas quando partimos de muito perto, do mais perto, que é nós, então o mundo inteiro está aberto — pois nós somos o mundo. Temos de começar pelo que é real, pelo que está a acontecer agora, e o agora é sem tempo”.