Em 1950, uma cidade japonesa chamada Minamata, sofreu uma contaminação em massa do metal chamado mercúrio resultando na morte de milhares de pessoas. Em 2013, a Organização das Nações Unidas criou a convenção Minamata para que eventos como aquele não fossem repetidos. Entretanto, os casos de contaminação no Brasil, principalmente na Amazônia não são notificados, pensando nisso surge a pergunta “A Amazônia será a nova Minamata?”
O Mercúrio, também conhecido como azougue, é o único metal que permanece em estado líquido à temperatura ambiente. No nosso dia a dia esse composto está presente em termômetros, pilhas, entre outros. Além disso, é muito utilizado no garimpo para dissolver as partículas de ouro encontradas junto com pedras e areia, quando dissolvido, o ouro e mercúrio formam uma amálgama que, quando aquecida, o mercúrio evapora deixando apenas o ouro como resíduo.
O corpo humano não tem capacidade para absorver esse composto, portanto, quando ingerido ele se acumula no corpo e quanto maior sua concentração, mais danoso se torna, podendo afetar órgãos como rins, fígado, sistema nervoso, digestivo entre outros. A contaminação por mercúrio é considerada uma “síndrome neurológica”, pois atinge a formação do cérebro e compromete o desenvolvimento psicossocial.
Em novembro de 2020 o Portal FioCruz e parceria com a WWF- Brasil divulgou um estudo com uma análise sobre a contaminação de mercúrio entre o povo indígena de Munduruku, no Pará. Cerca de 57,9% dos participantes apresentaram níveis de mercúrio acima do limite máximo de segurança estabelecido por agentes de saúde.
As aldeias que se encontram em áreas de garimpo são as mais afetadas, 90% dos participantes apresentaram índices elevados de mercúrio. A geração nova já nasce contaminada, 7 em cada 10 adolescente possuíam níveis acima da média e 15,8% das crianças apresentaram problemas relacionados ao neurodesenvolvimento.
Em 2019, uma pesquisa realizada nas Aldeias Sawré Muybu, Poxo Muybu e Sawré Aboy na Terra Índigena de Sawré Muybu contatou que todos foram expostos ao metal e 6 em cada 10 participantes estavam com contaminação superior ao permitido pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Na aldeia de Sawré Aboy, nas margens do rio Jamanxim, o mais impactado pela mineração ilegal, 9 de cada 10 participantes estavam contaminados.
O governador de Roraima, Antonio Denarium (sem partido), sancionou a lei estadual que libera o garimpo. Segundo uma reportagem da Folha de S. Paulo em setembro de 2020, Roraima não possui nenhuma mina de ouro legalizada, entretanto, inúmeras frotas carregando homens e suprimentos para a mineração de e para garimpos ilegais em reservas indígenas.
A FioCruz recomenda que a medida mais urgente e eficaz é a parada imediata das atividades garimpeiras ilegais. Além disso, um plano de descontinuidade do uso do mercúrio na mineração, a elaboração de um Plano de Manejo de Risco para as populações expostas e a elaboração de um conjunto de orientações à população das áreas afetadas.
A antropóloga Luísa Pontes Molina investiga garimpos ilegais nas terras do Munduruku (PA) e ressalta os riscos à saúde dos povos indígenas, que, além de sofrer com doenças como malária e covid-19 também sofrem com o mercúrio usado nos garimpos.
** É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita. O Jornal 140 não se responsabiliza pela opinião dos autores deste coletivo.