Em recente vitória da Juventus sobre o Cagliari pelo Campeonato Italiano, Cristiano Ronaldo superou o recorde de Pelé se tornando o jogador com o maior número de gols em jogos oficiais: são 770 tentos do português contra 767 do brasileiro.
Ora, mas Pelé não teria mais de 1000 gols? O que é necessário entender é que o número de jogos e torneios amistosos na época do Rei era enorme, além do fato de que as fontes de fato confiáveis eram muito mais escassas do que as de hoje. Mas o fato é que o próprio Rei reconheceu o marco de Cristiano Ronaldo. E quem melhor que Pelé para discutir suas próprias marcas?
Enfim, não deve ser apenas o Gajo a bater o recorde do Rei. Lionel Messi se aproxima rapidamente e, considerando que tem apenas 33 anos, deve tranquilamente superar Pelé. Talvez esta disputa pelo recorde de gols oficiais seja a última da lendária rivalidade entre CR7 e Messi.
Saudosistas X Amantes do futebol moderno: o dilema insuperável
Passada esta introdução, discussão que muito me incomoda e sempre vem a tona é sobre o valor dos gols de Pelé. Notem que tal discussão já começa pela mera discussão entre qual número é real: os 767 oficiais ou os mais de 1000 (a maioria das fontes aponta 1283!) gols. Mas, mesmo no caso de se levar em consideração apenas aqueles indiscutivelmente oficiais, não são poucos os que os consideram pouco relevantes em consideração com as marcas mais recentes. Vejamos os argumentos.
De um lado temos os chamados “saudosistas”. Não é raro vê-los apontando a baixíssima qualidade técnica em torneios locais. “No meu tempo” o estadual era um grande campeonato, pois mesmo os clubes pequenos tinham grandes elencos, com eventuais craques. Os saudosistas pegarão um vídeo de melhores lances de Garrincha e Pelé e o usarão para embasar sua teoria, pois era magia o que acontecia em campo. Além disso, ao verem um volante brucutu errar um passe de um metro lembrarão dos lançamentos perfeitos que Gerson efetuava no vigor de sua juventude. Como eram melhores os jogadores de antigamente.
Do outro lado, temos os “amantes do futebol moderno”. Estes apontam para questões como a evolução do futebol, dos sistemas táticos e, principalmente, da preparação física dos jogadores. Não raramente, o amante do futebol moderno não acompanha o “pobre” futebol local, pois é no futebol europeu em que se concentram as grandes estrelas. São os brasileiros que tem como primeiro time o PSG e o Manchester City. Ao ver o mesmo vídeo do lançamento de Gerson, falarão: “Olhem o tempo que ele demora para efetuar o lançamento! Hoje, você recebe a bola e o marcador já está em cima”. Me perdoem os saudosistas, mas o futebol moderno é o verdadeiro futebol.
Ambos irão ter a brilhante ideia de imaginar seus jogadores preferidos jogando em outros tempos. O saudosista irá dizer “Imagine o Gerson nesse meio de campo, acabarão os problemas de passes errados!”. Já o amante do futebol moderno rebaterá: “Cristiano Ronaldo faria um estrago no meio dessa marcação parada, superaria em muito os gols de Pelé!”.
Comparações não fazem sentido
Ora, senhores! Ainda não temos uma máquina do tempo para enviar um Cristiano Ronaldo com o melhor preparo físico disponível da década atual para os anos 50! Será que se o jogador tivesse nascido naqueles anos teria o mesmo físico monstruoso de hoje? Evidente que não! Da mesma forma, caso Gerson, Pelé e Garrincha fossem jogadores da atualidade teriam tido disponíveis todos os aparatos tecnológicos para a desenvoltura de seu físico.
Se ambos os exemplos teriam a mesma relevância em tempos diferentes? Impossível dizer! Mas nada irá mudar a relevância que tiveram em seus momentos. Ambos fazem parte de seleto rol de jogadores históricos, com importância ímpar para o futebol como um todo. Desmerecer um ou outro com base em anacronismo é extremamente injusto e ilógico.
Livre dessas amarras quase que ideológicas, me sinto a vontade para, em meu videogame, fazer um quarteto com Maradona, Pelé, Messi e Cristiano, e os convido a fazer também!
** É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita. O Jornal 140 não se responsabiliza pela opinião dos autores deste coletivo.