Dizem que durante um jogo de cartas, Wallis Simpson foi avisada de que havia descartado um rei indevidamente. A mulher que causou a abdicação do rei da Inglaterra teria respondido, então, “sim, mas fiquei com o melhor deles, não?”. Provavelmente um dos muitos rumores que cercam Wallis, a casa de Windsor e toda a genealogia da monarquia, a verdade é que a realeza britânica nunca deixou de causar impacto. Seja com as lendas, com Camelot e o Rei Arthur cristalizados na imaginação, seja na história com a sucessão de guerras e invasões que fizeram da Grã-Bretanha “o império onde o sol nunca se põe”, tamanha sua extensão no final da Primeira Guerra Mundial.
E, claro, que todos esses séculos de personagens admiráveis, estranhos, loucos e misteriosos não passaria despercebido pela literatura, cinema e TV. Seja como protagonistas, como na serie Vitória: a Vida de Uma Rainha (Globoplay), com Jenna Coleman , ou coadjuvantes como em Um Final de Semana em Hyde Park (Now), em que a recepção para George VI (Samuel West) e Elizabeth (Olívia Colman), pais da atual Rainha Elizabeth II, é o cenário para o relacionamento entre o Presidente Roosevelt e sua prima Daisy, a realeza britânica é a isca certa para atrair o público. Não é à toa que The Crown (Netflix) tem feito tanto sucesso.
Algumas histórias, claro, chamam mais a atenção dos roteiristas, como Henrique VIII, que obcecado por ter um herdeiro acabou sendo sucedido por uma filha, Elizabeth I. Entre as esposas de Henrique, a mais famosa é, sem dúvida, Ana Bolena, que aparece nas telas desde os tempos do cinema mudo. Seu fantasma é também um dos mais conhecidos da Inglaterra, com testemunhos garantindo que a viram na Torre de Londres, onde foi executada, e anualmente na noite de 19 de maio em Blickling Hall, local de seu nascimento. Outro bem representado é Henrique V, graças à vitória em Agincourt e a Shakespeare, que o transformou em personagem em duas de suas peças, primeiro como príncipe e depois como rei. Mas, mesmo quem não contou com um autor tão celebrado garantiu seu lugar nas telas:
Henrique V (1989 – Claro Vídeo):
Kenneth Branagh no auge de sua carreira shakespeariana dirige e estrela a adaptação da peça. Um show que culmina com o discurso que foi capaz de erguer o moral de exército e levar a Inglaterra à vitória na batalha de Agincourt. A versão anterior, com Laurence Olivier (1944) também está disponível (Now) para quem quiser comparar duas grandes atuações.
O Rei (2019- Netflix):
Thimothée Chalamet assume o papel de Henrique V nessa nova visão do período da batalha de Agincourt. Um rei no qual ninguém confia, nem mesmo o pai do qual ele herda o trono. Cercado de traidores e conspiradores que favorecem a França, é um herói obrigado a crescer.
Ana dos Mil Dias (1969):
Richard Burton e Geneviève Bujold estrelam a história de Ana Bolena, que se tornou Rainha quando Henrique VIII decidiu divorciar-se de Catarina de Aragão. Proibido e não reconhecido pela Igreja Católica, o divórcio levou à criação da Igreja da Inglaterra, chefiada pelo rei.
A Outra (2008 – Amazon Prime):
O relacionamento de Henrique VIII (Eric Bana) e Ana Bolena (Natalie Portman) dá espaço para uma suposta rivalidade dela com a irmã, Ana (Scarlett Johansson), que também foi amante do rei. Baseado no livro de Philippa Gregory, o roteiro é cheio de imprecisões históricas com bom entretenimento como resultado.
A Rainha Tirana (1955):
Bette Davis interpreta Elizabeth I, filha de Henrique VIII e Ana Bolena, que ganhou o apelido de a Rainha Virgem por ter decidido não se casar. O enredo acompanha a paixão de Elizabeth por Walter Raleigh (Richard Todd), soldado e corsário que acaba se apaixonando por uma das damas da Rainha. Originalmente chamado The Virgin Queen, o filme ganhou um nome mais pudico em português.
Elizabeth (1998 – Starzplay):
O filme que revelou Cate Blanchett ao grande público como Elizabeth I, que assume o trono de um país dividido, recusa o casamento e tem de controlar todas as conspirações que a cercam. O resultado é uma Elizabeth com muito em comum com as mulheres modernas que tentam equilibrar carreira e vida pessoal. Em 2007, Cate Blanchet voltou ao papel em Elizabeth – A Era de Ouro (Netflix), quando a Inglaterra enfrenta a Invencível Armada espanhola num plano que pretendia substituir Elizabeth I por Mary Stuart e restabelecer o catolicismo na Inglaterra.
Duas Rainhas (2018 – Amazon Prime):
Margot Robbie assume como Elizabeth I na disputa pelo trono da Inglaterra com sua prima Mary Stuart, interpretada por Saoirse Ronan. O confronto envolve religião, com católicos e protestantes dispostos a matar e morrer, e uma coleção de personagens masculinos cujo único objetivo é obter o poder através de Elizabeth ou Mary. Saoirse Ronan se sai melhor na briga, mesmo no encontro entre as duas que jamais aconteceu.
A Jovem Rainha Victoria (2009 – Google Play):
Emily Blunt interpreta Vitória desde seus dias como herdeira do trono de seu tio, William IV, até o início de sua vida de casada com o príncipe Albert. O romance, um dos poucos formado por um casal apaixonado em toda a história da realeza mundial, dá o tom do filme, embora o roteiro não deixe de lado as intrigas da mãe de Victoria de assumir o trono como regente e as dificuldades políticas da rainha.
Sua Majestade, Mrs Brown (1997):
A escandalosa amizade entre a Rainha Victoria e John Brown, funcionário de confiança do finado marido da soberana, o Príncipe Albert. Inicialmente chamado ao palácio para convencer a Rainha a retomar a vida pública após a morte do marido, Brown acaba se tornando confidente da soberana, para escândalo da corte, imprensa e do público, que desaprovam a proximidade da rainha com um homem que, além de plebeu, era escocês. Judi Dench, como sempre, faz um trabalho soberbo como Victoria.
Victoria e Abdul – O Confidente da Rainha (2017 – Now):
Judi Dench ocupa o trono da Inglaterra mais uma vez na história real da amizade entre a Rainha Victoria e Abdul Karim (Ali Fazal), indiano que chegou a ensinar o idioma urdu para a monarca. A amizade chega num momento em que Vitória apenas enfrenta a vida, décadas após a morte de seu amado Albert e cercada de interesseiros.
O Discurso do Rei (2010 – Amazon Prime):
Após Edward VIII abdicar ao trono para se casar com Wallis Simpson, seu irmão assume como George VI, um posto que o pai da atual Rainha Elizabeth II nunca desejou. O filme, estrelado por Colin Firth como George VI, e Geoffrey Rush como o professor de dicção Lionel Logue, acompanha a luta do monarca contra seu principal problema, o nervosismo que o afetava ao falar em público, fazendo com que gaguejasse. Firth faz um ótimo trabalho mostrando um homem capaz, generoso e gentil na vida privada que é obrigado a enfrentar não apenas o posto que a vida lhe determinou, mas também a iminente chegada da Segunda Guerra Mundial.
A Rainha (2006 – Curta!):
O longa vai a um dos momentos mais críticos da relação entre a Família Real e o público, o período após a morte da Princesa Diana, quando a tradicional discrição dos Windsors é vista como frieza pelo povo inglês. Helen Mirren interpreta a monarca ao lado de Michael Sheen como o recém-eleito Primeiro Ministro Tony Blair.
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