Nos últimos dias tivemos a bombástica notícia da criação de uma “Superliga” entre os maiores clubes da Europa. A Liga prometia ser a principal competição entre clubes do mundo, superando até mesmo a Champions League.
Estavam no projeto os gigantes Real Madrid, Milan, Arsenal, Atlético de Madrid, Chelsea, Barcelona, Inter de Milão, Juventus, Liverpool, Manchester City, Manchester United, Tottenham.
O alarde e a revolta, justificadíssima, de torcedores, jogadores e profissionais ligados ao esporte foi tão grande, que o projeto praticamente já está morto, poucos dias depois de ser mencionado pela primeira vez.
A competição previa vaga garantida para seus fundadores, sem possibilidade de “rebaixamento”, com apenas 5 vagas alternadas para todos os demais clubes do continente. Covardia e um exemplo do mais vil elitismo por parte dos clubes ditos “grandes”. Jamais seriam prejudicados por suas más administrações ou maus resultados em campo.
“Superliga” é discutida no Brasil há tempos, mas sem contraponto
Cumpre observar que vários dos gigantes fundadores da Superliga, a despeito de suas invejáveis histórias, riqueza e torcida, andam “mal das pernas”, ao menos no que diz respeito ao que seus nomes representam. Entre estes, impossível deixar de citar a dupla de Milão, que não apenas vê a Juventus colecionando títulos e protagonismo, mas também vem tendo aulas de administração do rival menor Atalanta, que todos os anos se classifica para a Liga dos Campeões.
Fato interessante é que a ideia por trás da criação de uma competição nos moldes da tal Superliga Europeia é discutida a muito tempo no Brasil. Ora, quem nunca ouviu, seja em mesas redondas de televisão ou em mesas redondas de bar, discussões sobre o fim dos estaduais? A criação de uma grande liga entre os 12 grandes? Em muito surpreende, de fato, que os defensores de tais ideias tenham se insurgido, revoltados, com a criação da Superliga. Aparentemente para estes a Fiorentina, o Villarreal e o West Ham merecem mais proteção que a Portuguesa, o Bangu e o Santa Cruz.
Em outro artigo, falei sobre a “Espanholização” cada vez mais consolidada no futebol brasileiro. A concentração de dinheiro em clubes como Flamengo e Palmeiras gera um ciclo vicioso que acaba por concentrar cada vez mais dinheiro nestes clubes. Mais dinheiro acarreta em melhores jogadores. Mais jogadores acarretam em títulos. Títulos geram mais visibilidade e mais dinheiro. E assim inicia-se novamente o ciclo, viciado e difícil de ser rompido.
Ninguém joga sozinho
O futebol, em sua essência, precisa de competição. E competição significa haver disputa real entre os clubes. A concentração de todos os títulos e todas as premiações em poucos clubes desvirtua o esporte. Não existe graça em uma competição criada para impedir que as zebras sequer tenham acesso a ela. Não existe graça em existir apenas uma torcida de um grande clube que conquista todos os títulos, batendo nos meros coadjuvantes que, a duras penas, montam times com jogadores juniores.
O debate e a revolta gerados, em pouquíssimo tempo, pela covardia dos clubes europeus, poderá ser muito proveitosa no mundo todo. Os clubes menores, suas torcidas e jornalistas esportivos que primam pelo esporte, podem e devem usar do momento em que o debate está a tona, para buscar condições mais justas para o esporte aqui no Brasil. Ser campeão é maravilhoso, mas não há título quando não há adversário.
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