Com o aumento das plantações e do agronegócio, veio um crescente número de pragas que prejudicam a agricultura. Como alternativa, o governo federal aprovou uma série de agrotóxicos. Em 2020, o Ministério da Agricultura permitia o uso de 493 tipos de agrotóxicos e alguns deles são componentes químicos semelhantes entre si. Apesar de terem efeitos sobre as pragas, o uso indiscriminado dessas substâncias provoca muitos danos à saúde humana e ao meio ambiente, além das pragas criarem resistência aos agrotóxicos e perderem sua efetividade. Desde então a ciência tem estudado possíveis substitutos para os agrotóxicos e obtivemos resultados.
Em 2016 o agrônomo e entomologista da unidade de Campinas do Instituto Biológico, Luís Garrigós Leite, junto à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, elaboraram um novo bioinseticida. O produto é a base de vermes nematoides do gênero Steinernema e Heterorhabditis que possuem dentro de seus organismos, em simbiose, bactérias dos gêneros Xenorhabdus e Photorhabdus. Os nematoides agem dentro dos insetos alvos e, ao se infiltrarem, liberam as bactérias. Esses microrganismos secretam enzimas que degradam os tecidos do animal provocando uma infecção generalizada, eliminando a praga em 2 dias. Esse material degradado serve como alimento para o verme favorecendo sua proliferação. Os principais ganhos com esse bioinseticida são: não provocar a resistência das pragas, não ser nociva para a saúde humana e para o meio ambiente.
A nova biotecnologia estava próxima da comercialização e, para chegar nessa etapa, criaram um método de conservação na qual os vermes são cobertos por diatomita (substância mineral) mantendo-os úmidos e “inativos” e para aplicá-los bastava colocar na água. Um dos impasses referentes a esse produto seria a produção em escala industrial a um custo baixo. A produção in vitro levou a elaboração de um meio de cultura constituído por óleo vegetal, extrato de levedura e gema de ovo. A partir desses produtos, a produção dos vermes teve um bom custo-benefício, podendo concorrer com um inseticida tradicional químico. De acordo com José Roberto Parra, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), em entrevista na Revista FAPESP, apesar de toda pesquisa, ainda é um obstáculo a produção em larga escala deste bioinseticida. Assim que conseguirmos a tecnologia necessária para produzi-la, tudo indica que será uma das melhores opções para os agricultores.
Neste ano (2021), a EMBRAPA em conjunto da empresa Ballagro Agro Tecnologia criaram o Acera, um outro bioinseticida à base de duas cepas de bactérias Bacillus thuringiensis (Bt) que é contra as espécies de lagarta Spodoptera frugiperda e Chrysodeixis includens.
Assim que a plantação é pulverizada com o Acera, a lagarta irá ingerir a bactéria e essa produzirá uma substância nociva aos insetos. Esse produto também possui várias vantagens como ser inócuo para o ser humano e outros vertebrados, não prejudica o meio ambiente como os inseticidas químicos, assegura os trabalhadores das lavouras e não prejudica os predadores naturais das pragas. Apesar de todos os benefícios, é necessário o uso consciente do produto já que se usado exacerbadamente pode levar a resistência das pragas ao bioinseticida.
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