A ciência é um conhecimento extremamente confiável por seguir uma série de métodos rigorosos, protocolos, regulamentos de biossegurança e ética que garantem sua confiabilidade, porém muitas vezes encontra-se em uma linha tênue entre o que é ético ou não em determinados experimentos e, por isso, acaba gerando debates entre a comunidade científica. Um desses experimentos que provocou discussões foi realizado na Universidade Kunming de Ciência e Tecnologia de Yunnan (China) pelo pesquisador Juan Carlos Izpisua Belmonte (Estados Unidos) na qual criou-se a primeira célula embrionária que foi derivada de células embrionárias humanas com de macacos da espécie Macaca fascicularis.
O experimento começou com o cultivo de células do macaco em laboratório e após seis dias foi aplicada a cada célula embrionária uma injeção com 25 células-tronco humanas.
Para leigos, as células-tronco possuem o potencial de se tornar outros tipos de células do corpo humano. Depois de dez dias de cultivo, apesar do crescimento embrionário, logo houve um declínio na taxa de sobrevivência. Entretanto, mesmo com poucos embriões “quimeras” sobreviventes, a porcentagem de células de origem humana continuou alta no decorrer do crescimento.
Izpisua Belmonte explica que com esse experimento seria possível aprimorar os conhecimentos sobre a comunicação celular num organismo quimérico. Mayana Zatz diz em entrevista para o Jornal USP:
“Seria possível gerar células-tronco pluripotentes de pessoas com diferentes doenças genéticas, gerar embriões quiméricos e investigar melhor o efeito de diferentes mutações nos embriões […] Além disso, seria possível testar o efeito de diferentes drogas nesses embriões […] Nosso grupo já conseguiu formar um “minifígado” humano a partir de um arcabouço de um fígado de rato, de onde foram retiradas todas as células. Talvez essa tecnologia de quimera permita, no futuro, reconstruir órgãos com muito maior rapidez.”
Apesar dos resultados serem promissores, a pesquisa é criticada pelo comprometimento para com a ética sendo que, de acordo com o pesquisador, suas condutas estavam seguindo as diretrizes éticas, legais e sociais. Izpisua Belmonte diz a Revista Scientific American:
“…foram feitas consultas e análises éticas tanto em nível institucional quanto através do contribuição de bioeticistas não afiliados. Esse processo completo e detalhado ajudou a guiar nossos experimentos”.
O questionamento que fica desse texto é: até que ponto a ética é algo que de fato condiz com os valores e a moral humana, não ferindo os princípios estipulados pela sociedade, e não algo que limite a ciência a ter novos conhecimentos que poderiam ser essenciais para, por exemplo, a saúde humana? Precisamos constantemente nos questionar sobre até onde a ciência pode ir e até onde a ética deve ou não intervir.
** É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita. O Jornal 140 não se responsabiliza pela opinião dos autores deste coletivo.