Do ensino médio para a faculdade. Muitos jovens fizeram essa transição de forma totalmente online. O entusiasmo deu lugar à apatia; as descobertas do primeiro dia na universidade deram lugar a um entrosamento indireto com os colegas. Desânimo, medo, ansiedade, essas foram algumas das palavras mais repetidas na aula inaugural de graduação de um curso da Universidade de São Paulo de que pude participar. Um chamado de atenção para olharmos como a pandemia tem impactado a juventude.
Se, por um lado, esses jovens universitários estão sofrendo os efeitos do ensino remoto e da pandemia sobre sua saúde mental, por outro lado, sabemos que essa realidade é ainda mais dura para a maior parte dos jovens. Escolas fechadas, aulas remotas, evasão escolar, desemprego e trabalhos precarizados marcam a Geração Z, nascidos entre 1996 e 2010. Essa é a realidade que vivemos na maior parte dos países da América Latina.
Segundo pesquisa da ONG Cuso Internacional, 1 em cada 6 jovens de 18 a 29 anos de idade da América Latina e Caribe ficou sem emprego durante a pandemia. Local de origem, classe social, raça, gênero são variáveis que nos ajudam a perceber quais são os jovens mais afetados pela pandemia. No Brasil, mulheres negras e das periferias são as mais atingidas.
Enquanto nos Estados Unidos jovens a partir de 15 anos de idade começam a se vacinar e ver suas vidas retornarem ao normal, a situação da juventude na América Latina é bem diferente.
Na Colômbia e Peru, jovens protagonizam protestos contra o Governo e pedem medidas para a crise sanitária e econômica e a violência. No México, segundo o Instituto Nacional de Estatística e Geografia, no final de 2020, foi relatada uma perda de 672 mil empregos entre a população de até 24 anos em comparação com o período anterior à pandemia.
Na Argentina, seguindo a crise econômica que se aprofundou no Governo Macri, as mulheres jovens foram as que mais sofreram os efeitos da pandemia. O desemprego juvenil foi o que mais cresceu em comparação com as outras faixas etárias, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística e Censos. Entre as mulheres de 14 a 29 anos, o desemprego passou de 23,9% em março de 2020 para 28,5% em junho. Entre os homens, o desemprego aumentou de 18,6% para 22,7%.
Algum alento vem das eleições no Chile que, no último domingo, surpreenderam os partidos tradicionais, elegendo 31% de candidatos independentes, em clara demonstração da insatisfação popular com os partidos tradicionais de direita e esquerda. Em Santiago, capital chilena, Iraci Hassler, mulher, jovem, do Partido Comunista, foi eleita prefeita.

No Brasil, com a suspensão do ensino presencial, os jovens das periferias viram seus estudos e aprendizado serem fortemente impactados. O ensino remoto, que teve de ser implementado sem planejamento e estrutura, evidencia e aprofunda desigualdades na aprendizagem no ensino básico. Um em cada 4 jovens de baixa renda não possui internet em casa. Segundo estudo do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), 25,52% dos jovens com idades entre 15 e 29 anos estavam afastados do mercado de trabalho e dos estudos, no quarto trimestre de 2020. No segundo trimestre do mesmo ano, esse número chegou a 29,33%, o maior desde 2012. Entre as mulheres de 15 a 29 anos, 31,29% não estuda e não trabalha. O estudo mostrou que a falta de estudo e trabalho é maior entre jovens, mulheres, negros, chefes de família e pessoas sem instrução.
A perpetuação dos efeitos dessas crises sobre os jovens pode ser devastadora para eles e para o país. Um projeto nacional de juventude precisa ser elaborado e implementado, escutando os jovens de todo o país e suas aspirações. É preciso investir na expansão do acesso à internet banda larga para estudantes da rede pública; pensar um ensino mais próximo de suas realidades e das mudanças em curso na sociedade; melhorar a qualidade da aprendizagem; expandir e qualificar o ensino profissional e tecnológico; e criar políticas de emprego e renda focadas na população jovem.
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