Fechamos a semana com os depoimentos da CPI da pandemia com questões inéditas: a ausência do governador do Estado do Amazonas, Wilson Lima e o comparecimento de dois técnicos como convidados, Natalia Pasternak, microbiologista e pesquisadora na USP e Claudio Maierovitch, ex-presidente da Anvisa e médico sanitarista pesquisador na Fiocruz estão presentes hoje na CPI da Pandemia.
Ambos os convidados se ativeram, obviamente, à respostas científicas, mesmo quanto confrontados sobre seus posicionamentos políticos por um dos senadores. Ambos se posicionam contrários ao governo de Jair Bolsonaro.
Aos fatos trazidos pelos cientistas:
Natalia Pasternak:
- A pesquisadora disse que doenças virais se combatem com vacina. Ainda comenta que remédios antivirais são difíceis de se obter, já que agem de forma muito específica a cada doença. e afirma “nunca controlamos ou erradicamos doenças virais com imunidade de rebanho. Controlamos com vacinas”.
- Ela afirma que sobre a cloroquina, estudos foram feitos por pressão política e popular, e que a cloroquina não tem plausibilidade biológica e nunca funcionou nos testes em animais, os estudos poderiam ter parado nos estudo pré-clíncos. “Desinformação prejudica qualquer tratamento e condução de epidemia”.
- Natalia fala “Quando ele ((Bolsonaro) aparece sem máscara, desdenhando das pessoas que morreram, ele confunde e leva à ilusão de que está tudo normal” a despeito da conduta de Bolsonaro ao desrespeitar medidas não-farmacológicas e vir a público sem máscara. Ainda comenta que o presidente da república tem de ter responsabilidade com o que faz e fala, ele é uma pessoa de influência e não deve menosprezar os cuidados não-farmacológicos.
- Natalia afirma que outros remédios como ivermectina, zinco e annita não são eficazes para o tratamento da Covid-19. E reitera “não reduzem carga viral, não reduzem inflamação, não reduzem tempo de hospitalização”.
- Sobre o ‘Kit Covid‘, Natalia afirma que ele não tem base científica que apoie seu uso e completa “Hidroxicloroquina é um medicamento muito bom para malária“. Ainda afirma que cloroquina e azitromicina juntas, podem ser nocivas para rins e fígado.
Claudio Maierovitch:
- o médico sanitarista disse que nenhum remédio antiviral foi encontrado “por acaso”, sempre houve muito estudo por trás. Claudio ainda comenta que não houve coordenação nacional da Pandemia, como houve com o Zika vírus em 2016. Ainda, em sua fala inicial, o sanitarista comentou que um estudo feito em 2020 colocou o Brasil em último lugar no combate à pandemias.
- Sobre a imunidade de rebanho: “rebanho se aplica a animais e fomos tratados dessa forma. (…) O governo brasileiro se manteve na posição de produzir imunidade de rebanho para a nossa população ao invés de adotar medidas reconhecidas pela ciência”.
- Concordando com Natalia sobre a ineficácia de ivermectina, zinco e annita para o tratamento da Covid-19, Claudio ainda levanta o fato de existir uma lista de fármacos, em fase experimental para esse fim. Muitos já descartados já que ainda mostram eficácia muito abaixo do desejado.
- Sobre o ‘Kit Covid’ e o uso indiscriminado de medicamentos não comprovadamente científicos para o tratamento da Covid-19, Maierovitch destacou que o uso (indiscrminado) desses medicamentos poder aumentar a resistência de bactérias a antimicrobianos.
- Sobre a condução de Bolsonaro com a Pandemia, o sanitarista comenta que o presidente da república não fez uso do amparo institucional e científico para pedir a importação de medicamentos.
- O médico ainda fala “afirmação homofóbica e estapafúrdia” quando lembra a fala de Bolsonaro; “Tudo agora é pandemia. Lamento os mortos, lamento. Todos nós vamos morrer um dia, aqui todo mundo vai morrer um dia… Não adianta fugir disso, da realidade. Tem que deixar de ser um país de maricas, pô”
- Sobre o uso de máscaras: o uso de máscara deve continuar até curva da Covid-19 cair. Esta afirmação se deu a despeito da defesa de Bolsonaro ontem (10) sobre retirar a obrigatoriedade do uso de máscaras.
Ontem seria o dia do depoimento de Wilson Lima, governador do estado do Amazonas. Contudo, Lima conseguiu um habeas corpus do STF, concedido pela ministra Rosa Weber. Em justificativa, a ministra disse que o governador já estava sendo investigado pela Polícia Federal e pela Procuradoria Geral da República na operção ‘Sangria’. Existem indícios de que funcionários do alto escalão da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas fraudaram contratações para favorecer grupo de empresários locais, sob orientação do governo do estado. Sendo assim, Lima, com o habeas corpus pode não comparacer a CPI na justificativa de não produzir provas contra si. Em justificativa, Lima disse que não comparaceu à CPI porque em um momento como esse não poderia se ausentar do estado.
Na ausência do governador do Amazonas – lamentada pelos senadores de oposição/ independentes e da base governista – as atividades seguiram e ontem (10), foram aprovados alguns requerimenstos. Um deles foi para a quebra de sigilo telefônico e telemático de Pazuello, o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, o empresário Carlos Wizard, do assessor internacional da Presidência, Filipe Martins, e do auditor do TCU, Alexandre Figueiredo que produziu um relatório fraudulento que trazia uma “supernotificação” de mortes por Covid-19 no Brasil. Foi aprovada a quebra de sigilo telefônico também de:
- Zoser Hardman, ex-assessor especial do Ministério da Saúde;
- Túlio Silveira, representante da Precisa Medicamentos;
- Paolo Zanotto, biologista;
- Marcellus Campêlo, ex-secretário de Saúde do Amazonas;
- Luciano Dias Azevedo, médico;
- Hélio Angotti Neto, Secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde;
- Francisco Ferreira Filho, Coordenador do Comitê da Crise do Amazonas;
- Francisco Emerson Maximiano, sócio da Precisa Medicamentos;
- Francieli Fontana Fantinato, coordenadora do Programa Nacional de Imunização (PNI);
- Flávio Werneck, ex-assessor de Relações Internacionais do Ministério da Saúde;
- Elcio Franco, ex-secretário Executivo do Ministério da Saúde(que depôs essa semana);
- Camile Giaretta Sachetti, ex-diretora do departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde;
- Arnaldo Correia de Medeiros, secretário de Vigilância em saúde do Ministéro da Saúde;
- Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde (que também já depôs);
Também foram aprovadas as transferências de sigilo bancário e fiscal de empresas de publicidade visando buscar o disparo em massa de mensagens com fake news sobre o combate à Covid-19 e descobrir quem poderia ter financiado a propagação dessas contra-informações. As empresas a serem investigadas:
- Empresa PPR – Profissionais de Publicidade Reunidos;
- Calya/Y2 Propaganda e Marketing;
- Artplan Comunicação;
- Associação Dignidade Médica de Pernambuco;
- Empresa PPR – Profissionais de Publicidade Reunidos.