O Brasil dos últimos dois anos parece estar imerso num sentimento de luto, desde o início da pandemia foram mais de 450 mil vidas perdidas para o coronavírus, motivo pelo qual muitos cidadãos se mobilizam para transformar esse sentimento em verbo e lutar.
A batalha é travada em diversos campos, o simples fato de viver cada dia pode ser um motivo para agradecer. Todavia, no Brasil de 2021 nem todos vivem, alguns apenas sobrevivem precariamente.
Conforme dados do IBGE o Índice de Desemprego atingiu a taxa de 14,8 milhões no primeiro trimestre desse ano. Desses tantos, muitos tiveram o pagamento do auxílio emergencial suspenso enquanto outros tiveram o valor das parcelas reduzido, conforme decisão do Poder Executivo.
O cenário desalentador leva muitos trabalhadores a sujeitarem-se em jornadas insalubres e de baixa remuneração, onde o preço do salário é estritamente o necessário para sua subsistência. Esse tipo de acordo tem tornando-se cada vez mais comum desde 2016, a contar da posse do presidente Michel Temer e sua plataforma de governo “Uma ponte para o futuro”, marcada por um projeto liberal de “flexibilização das leis trabalhistas”.
O governo de Jair Bolsonaro, a partir da figura do Ministro da Economia Paulo Guedes, tem dado prosseguimento a essa política, cujo principal símbolo é a criação de uma Carteira Verde e Amarela em substituição a tradicional Carteira de Trabalho.
A Carteira Verde e Amarela, aprovada a partir de uma Medida Provisória, afasta-se de garantias conquistadas pelos trabalhadores através da luta história e altera mais de 86 itens da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT).
Na prática são alterados artigos relativos as folgas dos trabalhadores durante os finais de semana, elementos acerca da sua jornada de trabalho, alimentação, seguro acidente e muitos outros termos.
Nesse sentido, intensifica-se o cenário onde o trabalhador precisa vender a si mesmo a cada dia e a cada hora. Alguns vendem a força braçal, outros vendem suas artes ou suas ideias, em troca de algum valor que os permita resistir.
Sem as regras de proteção ao trabalhador o seu serviço, qualquer que seja, passa a ser visto como uma mera mercadoria e o seu preço será determinado exatamente segundo o preço de todas as demais mercadorias.
Nesse sentido, o grande exército de reserva (formado pelos desempregados) brasileiro torna o preço da mão-de-obra sempre baixo, considerando que sempre existirão indivíduos dispostos a ocupar os postos de trabalho para não perecer de fome.
Junto a isso, acrescenta-se a circulação de um vírus letal e teremos o retrato do cenário de um cidadão comum do nosso país. A transformação do sentimento de luto em verbo faz-se entendível.
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