Em 1996 o poeta Chico Science escreveria o verso “um passo à frente e você já não está mais no mesmo lugar”, eternizado na canção Um Passeio Pelo Mundo Livre. Atrás desse pequeno conjunto de palavras, podemos identificar um grande significado. Science nos fala sobre a posição que ocupamos ou deixamos de ocupar na sociedade.
Passaram-se mais de 20 anos do lançamento dessa canção, o mestre do manguebeat não se encontra mais nesse plano, todavia sua mensagem permanece viva. Sobretudo ao nos depararmos com um cenário marcado por conflitos que dividem a sociedade em lados opostos. Para alguns, a recusa aos dois lados parece o local mais sensato. Todavia, ignorar um problema não fará ele desaparecer.
Quando esses conflitos estão situados no campo político é comum ouvirmos argumentos do tipo: “não me envolvo com política”; “política não muda minha vida”; “odeio política e tudo que ela representa”. Entretanto, por mais sentimentais que possam ser esses discursos, são apenas falácias.
O homem, por si só, é um animal social e político. Todas as atividades humanas são condicionadas pelo fato de que os homens vivem juntos. A filósofa Hannah Arendt explana bem acerca dessa condição:
“A vida ativa, ou seja, a vida humana na medida em que se empenha ativamente em fazer algo, tem raízes permanentes num mundo de homens ou de coisas feitas pelos homens, um mundo que ela jamais abandona ou chega a transcender completamente. Nenhuma vida humana, nem mesmo a vida do eremita em meio à natureza selvagem, é possível sem um mundo que, direta ou indiretamente, testemunhe a presença de outros seres humanos.”
Dito isso, é uma ilusão pensar que as discussões políticas não lhe dizem respeito. Você pode até não se importar com a política institucional, discutida nos grandes congressos e câmaras. Todavia, a micropolítica invade nosso cotidiano até mesmo nos nossos gestos, nas roupas que vestimos, nos sites que acessamos e nos programas que assistimos.
A posição de “neutralidade” perante questões políticas pode soar, em muitas situações, como acomodação ou até mesmo colaboracionismo. Recentemente uma frase tornou-se viral nas redes sociais, ela parece resumir bem esse tipo de problema: “Se tem dez pessoas numa mesa, senta um nazista e ninguém se levanta, então são onze nazistas na mesa”.
Pode parecer exagero, todavia se observarmos a consolidação do Nazismo na Alemanha, poderemos perceber que muitos sujeitos legitimadores desse plano político eram tidos como “homens bons”, como poder ser visto de forma mais detalhada no artigo “O Fascismo Nosso de Cada Dia” publicado em janeiro.
Em síntese, devemos avaliar sempre nossos posicionamentos e nossa condição enquanto animais políticos. Pois como diria Black Allien: “Há três tipos de gente: os que imaginam o que acontece; os que não sabem o que acontece; e nós que faz acontecer”.
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