Os caranguejos-ferradura são uma das criaturas mais antigas do mundo. Considerados “fósseis vivos”, acredita-se que eles estão pela Terra há aproximadamente 450 milhões de anos. Apesar do nome eles não são caranguejos, essas criaturas aquáticas fazem parte da classe dos aracnídeos como as aranhas, escorpiões, ácaros, entre outros. Atualmente, existem apenas 4 espécies de caranguejo-ferradura nos oceanos.
Esse animal possui o sangue leitoso, de coloração azul devido a presença de cobre e 1L costuma ser vendido por aproximadamente R$80 mil. Além do cobre, o sangue do caranguejo possui uma substância química conhecida como lisado de amebócitos do Lumulus (LAL) muito utilizado por cientistas para testar a contaminação durante a fabricação de qualquer coisa que possa vir a entrar no corpo humano, desde vacinas a dispositivos médicos implantados.
O LAL detecta um composto chamado endotoxina mesmo que em quantidades extremamente baixas, quando em contato com o composto, o sangue coagula dando a certeza de esterilidade em qualquer medicamento. Além disso, o sangue também pode ajudar a detectar doenças como meningite e câncer.
Todos os anos, as empresas farmacêuticas capturam cerca de meio milhão de caranguejos-ferradura, perfuram as conchas, recolhem cerca de 30% do seu sangue e devolvem ao oceano. Estima-se que 10 a 30% desses animais, morrem no processo e as fêmeas sobreviventes desenvolvem dificuldade na hora de procriar.
Atualmente, existem quatro espécies do caranguejo-ferradura no mundo e todas se encontram ameaçadas de extinção, resultado da pesca em excesso para uso na indústria biomédica combinada ao uso do caranguejo como isca de pesca e a poluição. Biólogos estimaram que no ano de 1990, 1,24 milhão de caranguejos surgiram na baía de Delaware, em 2002, esse número caiu para 333,5 mil e, em 2019, o levantamento estimado foi cerca de 335.211.
À medida que a população aumenta, a demanda do caranguejo também aumenta devido a necessidade do LAL. “Todas as empresas farmacêuticas ao redor do mundo dependem desses caranguejos. Quando refletimos sobre isso, nossa cabeça fica abismada com a dependência que temos dessa criatura primitiva” diz Barbara Brummer, diretora estadual da The Nature Conservancy de Nova Jersey, EUA.
Em 2016, foi desenvolvido uma alternativa sintética ao lisado de caranguejo, o fator C recombinante (rFC) aprovada como alternativa na Europa. Entretanto, em 1º de junho de 2020 a Farmacopeia Americana se recusou a usar o rFC no mesmo nível do lisado, alegando garantia não comprovada.
A fabricação de vacinas para a COVID-19, era de grande preocupação para conservacionistas devido ao medo dos impactos que os teste da vacina teriam aos caranguejos. A revista National Geographic fez uma pesquisa com os 3 principais laboratórios fabricantes e constatou que para fazer 5 bilhões de vacinas contra o coronavírus, é necessário a quantidade de sangue equivalente à de um dia de produção.
Conservacionistas vem monitorando os impactos ambientais em espécies que se alimentam dos ovos de caranguejo-ferradura. Segundo Larry Niles, biólogo da Conserve Wildlife Foundation de Nova Jersey, a quantidade de peixes como linguado e robalo despencou na Baía de Delaware, além de outros animais como a tartaruga-diamante, já sensível à extinção, que também possui os ovos como fonte vital de alimento.
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