Nesta semana (14/07), após passar pelo Hospital das Forças Armadas, o Presidente Bolsonaro foi transferido para o Hospital Nova Star, em São Paulo, para investigar o diagnóstico de obstrução intestinal. O Hospital informou que após as avaliações realizadas, Bolsonaro permanecerá internado inicialmente em tratamento clínico conservador – ou seja, sem cirurgia. Nas redes sociais, na última quarta-feira, Bolsonaro postou uma foto sua deitado em uma cama hospitalar e disse se tratar de “mais um desafio, consequência da tentativa de assassinato” – referindo-se ao episódio da facada durante sua campanha eleitoral em 2018.
Com assuntos de saúde, como diz minha mãe, não se brinca. Que sua recuperação seja breve para que ele possa prestar todos os esclarecimentos e responder aos crimes investigados pela CPI da Covid-19 e aos crimes contra a humanidade, na corte internacional.
Enquanto estava investigando sua crise de soluço no Hospital das Forças Armadas, em Brasília, a narrativa oficial adotada, por meio das redes sociais, utilizou estrategicamente a doença de Bolsonaro para abafar os casos de corrupção investigados, para diminuir os danos causados pelas pesquisas eleitorais recentes, que mostram Lula e outros candidatos com vantagens sobre Bolsonaro, e para diminuir os efeitos sobre a opinião pública à respeito da atuação do Governo. O histórico de falta de transparência quanto aos exames de covid-19 do Presidente e seu quadro de saúde, nos fazem, muitas vezes, duvidar sobre a verdade. Difícil afirmar que Bolsonaro arquiteta um quadro clínico inexistente para benefício próprio, mas, no mínimo, ele faz dos limões, uma limonada.
Bolsonaro utiliza-se das redes sociais para inflamar discursos de ódio, ao reviver o episódio da facada de 2018, e para fortalecer a figura de “mito” – de um Presidente incansável , inabalável e protegido por “Deus” – mesma estratégia de comunicação utilizada em sua campanha de 2018. Tanto no caso de sua saúde, como no caso das mais de 530 mil mortes no país, Bolsonaro faz uso político sobre a vida – nosso bem maior. Em suas mensagens, afirmou que apesar de tudo que passamos e dessa pandemia, que levou muitas vidas pelo mundo, ele continua seguindo por este caminho. Logo ele, que criou obstáculos para a compra de vacinas, orientou uso de medicamentos ineficientes, estimulou aglomerações e o não uso de máscaras e tantos outros fatos que a CPI tem nos revelado.
A narrativa de mito construída continua a servir aos seus seguidores fiéis, àqueles 15% da população que crê de olhos vendados no Presidente, independentemente da quantidade de evidências demonstradas pela mídia, pesquisas científicas e provas físicas. Numa outra modelagem, voltada aos eleitores evangélicos, a narrativa sobre o mito recai sobre seu trabalho de tirar o povo das garras dos corruptos, dos políticos que invertem valores morais, do crime organizado e para proteger a liberdade da população.
Em carta, o Presidente também pediu que o povo não se esqueça de seus valores e cores – justamente no momento em que as manifestações contra o Governo ganham força nacional e os manifestantes passam a utilizar nossa bandeira como símbolo nacional e coletivo. Já mirando nos militares, Bolsonaro ressalta atributos nacionais. Ele encerra a carta, falando sobre sua honestidade e a crença em Deus.
Ao utilizar sua saúde no cálculo político, o Presidente Bolsonaro tenta consolidar no imaginário social a figura de um mártir. No seu público-alvo estão os 15% de fiéis, os 24% que avaliam seu governo como ótimo e bom e os outros 24% que consideram seu governo regular. Os outros 51% que consideram seu governo ruim ou péssimo sobrevivem em meio ao caos, tentando manter a vida e a sanidade mental.
Resta-nos ir contra a corrente, tomando as rédeas do destino coletivo, com voz ativa permeada de verdade.
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