E depois de duas semanas de madrugadas intensas e cheias de esporte, finalmente chega ao fim as Olimpíadas de Tóquio, marcadas pelo adiamento por conta da pandemia do COVID-19.
Os Jogos trouxeram a melhor participação do Brasil na história, mas diversas dessas medalhas tiveram fontes inesperadas, enquanto favoritos, por outro lado, tenham ficado pelo caminho.
Malvadão e Braz medalham no Atletismo
Com seu jeito irreverente, o carismático Alison dos Santos conquistou o coração dos brasileiros mesmo antes das provas. E na final não deixou a desejar. E olha que não faltou concorrência, pois a final dos 400 metros com barreiras foi a maior da história da modalidade, com todos os medalhistas correndo abaixo do antigo recorde olímpico.
Piu, como é conhecido Alison, fez a marca de 46s72, recorde sulamericano, ficando atrás apenas do norueguês Karsten Warholm e do estadunidense Rai Benjamin. O norueguês, que pegou a medalha de ouro batendo recorde mundial, foi o primeiro atleta da modalidade a fazer tempo de prova na casa dos 45 segundos.
Já no salto com vara, Thiago Braz vinha com o peso de ser o atual campeão olímpico, em prova inesquecível na Rio 2016. E lá também estava o francês Renaud Lavillenie, rosto conhecido dos brasileiros. Apesar de resultados recentes não tão bons, Thiago voltou a medalhar conquistando o bronze em disputa acirrada com Lavillenie, se transformando definitivamente em um fantasma do francês.
Enquanto a medalha de prata ficou com o americano Christopher Nilsen, o prodígio sueco Armand Duplantis ganhou a prova com o pé nas costas, e após ter assegurado seu ouro precocemente com a boa marca de 6,02m, passou a tentar bater seu próprio recorde mundial elevando a altura da barreira para incríveis 6,19m. Falhando nas três tentativas por muito pouco, o recorde olímpico conquistado por Thiago na Rio 2016 (6,03m) continua intacto pelo menos até Paris.
Sempre Grael
Já na vela, a família que mais trouxe medalhas para o Brasil conquistou um bicampeonato olímpico nas mãos de Martine Grael, que ao lado de sua parceira Kahena Kunze, chegou em segundo lugar na regata final da classe 49erFX, garantindo com folga a pontuação necessária para a medalha de ouro da categoria.
Para os leigos o início da prova foi assustador, já que a dupla foi a única a tomar rota diferente das demais. Mas rapidamente a escolha das meninas provou-se acertada, e não houveram grandes contestações por sua medalha de ouro. É mais uma medalha na conta da família Grael.
Chuva de medalhas no boxe
Em excelente participação no esporte, o boxe garantiu nada menos que 3 medalhas para o Brasil em Tóquio 2021. A primeira delas veio com um bronze de Abner Teixeira, que perdeu sua semifinal contra o cubano Julio La Cruz, tetracampeão mundial da categoria.
Já Hebert Conceição protagonizou luta histórica. Após perder os dois primeiros rounds para o ucraniano Oleksandr Khyzniak, Hebert entrou extremamente agressivo, e em lance extremamente rápido, nocauteou Khyzniak, levando torcida e narradores ao delírio. O ucraniano não aceitou bem a derrota, tentando continuar a luta após o nocaute, mas a vitória já era do brasileiro.
Bia Ferreira, campeã mundial em 2019, pegou a prata na última medalha brasileira nos jogos, ao perder para a irlandesa Kellie Harrington, em luta equilibrada, mas com vantagem inegável para a adversária, que ganhou em decisão unânime dos juízes. São três medalhas na conta do boxe para o Brasil.
Mares de Ouro
Muito embora Ana Marcela Cunha tenha diversos resultados expressivos na modalidade, este ouro não era tão esperado pelo nível de dificuldade da Maratona Aquática. Ana Marcela estava em sua quarta Olímpiada e dessa vez liderou a prova do início até o final.
Enquanto a torcida brasileira ficou chocada com o nível de desgaste da prova, 10km em meio ao mar, Cunha saiu do mar, campeã olímpica, e dando entrevistas sem mostrar qualquer cansaço. Pulmão de aço (ou seria de ouro?) da brasileira!
É a segunda medalha consecutiva da modalidade para o Brasil em Jogos Olímpicos, já que Poliana Okimoto conseguiu a Prata em Rio 2016. Parece que o Brasil vai se colocando como potência olímpica no esporte.
Skate traz mais uma medalha em final cheia de brasileiros
Modalidade que rapidamente conquistou os brasileiros com as atuações de Rayssa Leal, a Fadinha, e Kelvin Hoefler, o Skate voltou a Tóquio na modalidade Park e contou com final masculina com três brasileiros: Pedro Barros, Pedro Quintas e Luizinho.
Logo de cara, o australiano Keegan Palmer emplacou volta quase perfeita, que só foi superada por ele mesmo, ganhando o ouro. A prata ficou para o brasileiro Barros, que representou o Brasil no pódio e nas cores do cabelo, tendo o pódio sido completado pelo americano Cory Juneau.
Depois de fazer excelentes eliminatórias, Quintas não conseguiu acertar suas voltas e ficou na oitava colocação. Luizinho por outro lado, por muito pouco não beliscou o bronze, tendo sua última volta ficado a pouquíssimos pontos de superar o americano.
Depois de Tóquio fica claro que o Skate tem tudo para ser um carro chefe de medalhas para o Brasil nos Jogos Olímpicos.
Isaquias se firma como um dos maiores nomes olímpicos brasileiros
Depois de enorme frustração ao terminar a competição em dupla em quarto lugar ao lado de seu companheiro Jacky Godmann, Isaquias Queiroz, detentor de três medalhas em Rio 2016, veio para a final com sangue nos olhos prometendo “vomitar sangue” pelo ouro.
Em prova absurda na qual os competidores terminaram tremendo de exaustão, Isaquias não chegou a vomitar sangue, mas conquistou a medalha de ouro pela primeira vez (no Rio, o baiano havia conquistado duas pratas e um bronze).
De quebra entrou em seleto rol de atletas brasileiros com 4 medalhas no currículo, ao lados das lendas Gustavo Borges, da natação, e do líbero Serginho, do vôlei masculino. Isaquias tem tudo para alcançar, e quem sabe superar, os velejadores Torben Grael e Robert Scheidt, que lideram o quadro de medalhas brasileiros com 5 medalhas no total.
O país do futebol
Após campanha extremamente regular do Brasil, sem grandes surpresas, o confronto entre as duas melhores seleções do torneio ocorreu na final, para deleite dos apreciadores do esporte. Enquanto o Brasil contava com diversos nomes consolidados e um “vovô” Daniel Alves, a Espanha trouxe a Tóquio praticamente sua Seleção Principal, embora extremamente rejuvenescida, com titulares da Fúria na Eurocopa.
Richarlison, um dos destaques brasileiros e artilheiro dos Jogos, teve a oportunidade de abrir o placar, mas isolou a cobrança contra o goleiro Unai Simón. Assim, coube a Matheus Cunha abrir o placar após assistência de Dani Alves. Oyarzabal empatou a partida em belo gol após cruzamento e batida de primeira, levando a partida para a prorrogação.
Uma das únicas alterações feitas pelo técnico André Jardine, Malcom entrou descansado na partida e utilizou de sua velocidade contra uma zaga já extenuada para marcar o gol que deu o bicampeonato olímpico a Seleção canarinho. É mais um título para a conta de Dani Alves, o jogador com mais canecos na história do futebol.
Vôlei feminino é o alento do esporte em Tóquio
Um dos esportes mais tradicionais do Brasil, principalmente em Olímpiadas, o vôlei como um todo deixou a desejar em Tóquio. As modalidades de praia, tanto masculina quanto feminina, passaram longe das disputas de medalhas, causando grande estranhamento do público, acostumado com vitórias no esporte.
Já na quadra, o vôlei feminino foi o alento brasileiro, conquistando a prata com diversos triunfos contra grandes seleções, parando apenas contra as rivais americanas na final, contando com grandes atuações de nomes como Garay e Rosamaria.
Desta vez a espera é menor
Como os Jogos foram adiados, temos um próximo ciclo olímpico bem mais curto e apenas três anos de espera por Paris 2024, que trará a modalidade de breaking dance para os Jogos.
Esperamos que ao lado de xodós como Rayssa, Alison e Isaquias tenhamos novos nomes com sucesso nos próximos Jogos. Que venha Paris!
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