A ironia contida no sub-título desse texto reflete a dualidade de dois mundos krasinskianos: um cercado de humor inovador em The Office e o outro com um suspense/terror pós-apocalíptico disruptivo de Um Lugar Silencioso.
John Krasinski ficou conhecido do grande público pelo primeiro desses mundos, no qual interpretava um dos personagens hilariantes da série de sucesso. Já foi um feito e tanto que o colocou no estrelato. Mas o que o futuro lhe reservava seria ainda mais impressionante: Um Lugar Silencioso é um dos clássicos de terror da nova geração. E o comentário se estende para ambos os filmes da saga da família Abbott.
Não, não estou delirando. E a minha fala tem tom puramente de admirador de filmes do gênero. Isso porque a visão de alguém que consome tais estilos pode ser muito oportuna ao se analisar o que Krasinski construiu nesse universo.
Para quem não está familiarizado, em Um Lugar Silencioso (2018) nos deparamos com uma família num cenário devastado. Aos poucos, entendemos que o pai (Krasinski), a mãe (Emily Blunt) e seus filhos precisam sobreviver em silêncio em meio ao caos pós-apocalíptico. Isso porque seres monstruosos destroçam qualquer um que cruzar os seus caminhos, mas conseguem isso apenas identificando sons – eles não enxergam.
Contexto posto. O filme foi um praticamente unanimidade de crítica e bilheteria e criou um parâmetro diferente para Um Lugar Silencioso – Parte 2, que de fato completaria lacunas deixadas no primeiro filme. Após muita expectativa (principalmente por conta dos tempos pandêmicos), eis que o segundo longa chega arrebatador aos cinemas.
Em Parte 2, a história segue exatamente de onde encerramos o primeiro capítulo da saga. Isso dá ainda mais sustentação para entender a continuidade que se fazia necessária dos fatos. O breve prólogo mais ilustra o pré-apocalipse do que necessariamente o justifica, o que é louvável. Na real, não importa como aqueles monstros ali estão – eles apenas estão!
A melhor sensação do susto é simplesmente senti-lo. Que o dirá a minha esposa, que teve uma rápida crise de choro/riso em determinada cena que traduz o espírito dos clássicos do gênero. Portanto, é possível interpretar que o longa atende ao que se propõe.
A premissa do primeiro filme está lá, é claro, mas saber que a parte 2 ganha novos contornos é animador. Num primeiro momento, a trama parece caminhar para os mesmos conflitos do seu antecessor. Mas a chegada de novos elementos e cenários trazem um rumo revelador e, ao mesmo tempo, mantendo em alta a temática e a sensação de aflição e agonia.
O mérito de Krasinski é saber como se renovar depois de uma ideia bem sucedida. Se em Um Lugar Silencioso a trama se desenrola “apenas” (ou principalmente) em torno da questão sonora, em Parte 2 o criador se debruça no mesmo aspecto em tons mais aprofundados. Porém, a boa notícia é que o espectador não é negligenciado. Quer tomar sustos? Tome, aqui está. Quer saber o que vai acontecer com os filhos? Pois não, veja. Não há pegadinhas que não sejam inerentes do prazer em produzir um bom filme de terror.
Muito desses elementos inerentes ao universo criado por Krasinski se sustentam também nas personas que permeiam essas situações. Não sabemos muito mais sobre as jornadas dos personagens, e isso não é algo ruim. O que precisamos saber sobre suas vidas e personalidades está lá, e é mais do que suficiente.
Emily Blunt repete a excelente atuação na pele de Evelyn Abbott, o que só confirma o acerto na parceria com o marido (ela é casada desde 2010 com John Krasinski). Além de contar com os talentos impressionantes da dupla Millicent Simmonds e Noah Jupe novamente como seus filhos, Blunt ganha o reforço do talentosíssimo Cillian Murphy (importantíssimo para a trama). Há ainda espaço para uma breve, mas também agradável participação de Djimon Hounsou.
O que John Krasinski criou não deixa de ser um tributo à filmes como Tubarão ou até mesmo obras de Hitchcock. Os elementos clássicos do suspense e do choque estão lá, não se perderam. Mas eles podem ser atualizados ou direcionados a um novo cenário. Krasinski o faz sem perder o foco do entretenimento ou até mesmo da atualização.
A questão aqui não é apenas venerar um filme, um elenco ou um diretor. Sempre que alguma criação traz um frescor, é mais do que oportuno reverenciá-la. Lembro de quando vi a 1ª temporada de Stranger Things e pensei: “Que ótimo que o cinema e o mundo das séries sempre pode nos surpreender.”
John Krasinski sabe se reinventar. Quantos autores podem dizer o mesmo?
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Um Lugar Silencioso - Parte 2
A saga continua! Após os acontecimentos do primeiro filme, a família Abbott tenta sobreviver em meio ao caos pós-apocalíptico causado pelos monstros.
PROS
- Universo do primeiro filme é aprofundado
- O talento de John Krasinski como diretor e roteirista
- Elenco que traduz os difíceis sentimentos dos personagens
Análise da Avaliação
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Roteiro
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Atuação
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Elenco
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Direção e Equipe
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Som e Trilha Sonora
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Figurino
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Cenários