Quantas vezes você já ouviu ou até compartilha da mesma opinião de que “Ah, o Estado não funciona”…“Não é eficiente”…“Muita burocracia”…“Só tem gente encostada”…“Cabide de emprego”…“Só tem corrupção”? Por que muitos pensam dessa forma? De onde vem todo esse ceticismo sobre a gestão e administração pública?
Que nós fomos colonizados por Portugal não é uma novidade, o que às vezes não é tão claro para o senso comum, é que muito do que ainda existe hoje na política e na gestão pública, advém de uma história muito antiga nossa e não apenas uma criação específica do governo de fulano ou da ciclana. O Patrimonialismo (1500- 1930), que durou séculos no Brasil e parte da Europa, trouxe muitas falhas e insuficiências para nós enquanto sistema de gestão e de governança. Já adiantando a resposta de onde vem nossa descrença na política, nós possuímos raízes maléficas quando falamos em nepotismo e corrupção, não sendo coincidência estarmos cansados, descrentes, desiludidos, quando damos de cara com a urna de anos em anos ou lemos notícias sobre nossa cidade e país.
Ora pois!
No Brasil colônia não havia distinção do bem público e privado. Se fosse atualmente, veríamos por exemplo: Lindovaldo se tornou presidente e o seu bem antes da posse era apenas uma bala sete-belo, agora quando eleito, levou junto o Palácio da Alvorada! Então tudo o que existia, pertencia ao rei, no caso do Brasil, ao imperador. Por que será que vemos por aí um presidente se achando dono do país? Ou do STF….
O clientelismo, também não é algo recente, a famosa troca de favores: eu te ajudo (de forma implícita ou não) e você vota em mim. Na época, vemos esse termo dentro do coronelismo, embora não sejam sinônimos, é um fato histórico, onde o coronel estabelecia essa relação com o eleitor para manter sua popularidade e poder. Assim também ficou conhecido o termo voto de cabresto. Como funcionários públicos, membros da família (ouvi nepotismo?), amigos, a nobreza, eram quem o imperador convidava para governar. Sim, um amigão do Dom Pedro I poderia ser juiz, por exemplo. Qualquer semelhança com a atualidade não é mera coincidência. Alô, Sérgio Reis! Alô, Regina Duarte!
Com a vinda da família real para o Brasil, viu-se a necessidade de criar órgãos, cargos, funções que muitas vezes seriam inúteis, mas tinham que existir para todo esse povo português ter função e justificado seus ganhos em cima dos impostos coletados para a coroa portuguesa. É isso mesmo, se você pensou em cabide de emprego e inchaço da máquina pública não foi coincidência. Desde a tenra idade de nosso país enquanto colônia, já existia esse modo de gerir.
Para quem tem interesse em saber mais sobre nosso passado colonial, recomendo fortemente a leitura do livro de Sérgio Buarque de Holanda- Raízes do Brasil.
Pegue seu banquinho e saia de mansinho… Será?
Vivendo o cenário onde vemos que tanto tempo passou e muito ainda está igual, é desolador mesmo. Dá vontade de desistir de acompanhar, de votar, de acreditar de novo. Felizmente, sem precisar ler nada sobre, já de antemão podemos pensar: as pessoas não são iguais.
Nem todo governante será corrupto, nem todo funcionário público é encostado, nem todo político trabalha na base do clientelismo. Se realmente tudo fosse da maneira que muitos pensam “que o Estado não funciona” haveria caos na rua 24h por dia! É uma questão de lógica e ninguém precisa estudar para concluir isso.
Ainda assim, você me diz que não parece valer totalmente a pena fazer parte desse universo. Mas eu te pergunto: será que essa é a melhor solução? Será que NADA mudou em toda nossa trajetória na administração pública?
Cena dos próximos capítulos. Acompanhe aqui comigo que em breve voltaremos a falar sobre esses questionamentos acima.
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