Desculpe começar com um problema pessoal: estou de saco cheio! Além dos estragos causados pelo Alien, o 8º passageiro (Covid-19), da economia e da situação política, passei a receber ligações diárias de manhã, de tarde e de noite de números desconhecidos –muitas de telemarketing. Acabei de receber os resultados de uma pesquisa – Panorama Mobile Time/Opinion Box.
Intitulado “Chamadas Indesejadas no Brasil 2021” o relatório analisou as respostas online de 2.125 brasileiros e apresenta uma série de dados estarrecedores: 1) proporção de brasileiros que já receberam chamadas indesejadas em seu celular, divididos por quatro tipos: televendas; cobrança indevida; golpes; e ligações de robôs; 2) proporção de brasileiros que se incomodam com cada um desses quatro tipos de chamadas e seu grau de incômodo; 3) comparativo de frequência de uso entre WhatsApp, Messenger, Telegram, Instagram, Signal e SMS; 4) frequência com que os brasileiros recebem cada um desses quatro tipos de chamadas indesejadas; 5) os tipos de golpes telefônicos mais comuns no Brasil; 6) as medidas tomadas pelos brasileiros para evitar chamadas indesejadas; 7) a percepção dos brasileiros sobre a responsabilidade das operadoras sobre esse problema; 8) a disposição dos brasileiros em pagar por um serviço que bloqueie spam telefônico. O Jornal 140 transcreve abaixo trechos do relatório compartilhado pela Mobile Time.
Televendas: 51% recebem quatro ou mais ligações por dia!
Vamos por partes Jack. Televendas, por exemplo. 92% dos usuários de telefonia celular já receberam ligações de televendas em seus aparelhos (você já?). Esse percentual é um pouco maior entre pessoas das classes A e B (95%) do que entre aquelas das classes C, D e E (90%). Por faixa etária, a incidência é um pouco maior no grupo de 30 a 49 anos (93%) que entre os jovens de 16 a 29 anos (89%). Dentre as pessoas que já receberam chamadas de televendas no celular, 39% afirmam que as ligações acontecem todo dia ou quase todo dia. Trata-se da maior frequência registrada na comparação entre os quatro tipos de chamadas indesejadas. No grupo que é importunado diariamente, 51% afirmam receber em média quatro ou mais ligações de televendas por dia. Detalhe: apenas 4% dos respondentes afirmara que a ligação era útil.
Cobrança de desconhecido: e quando cobram você achando que você é outro?
O relatório da Mobile Time diz que ligações de cobrança buscando pessoas que a gente não conhece é um problema sério no Brasil. Alguém frauda um empréstimo com dados falsos e a cobrança da dívida chega para outra pessoa, dona do número telefônico informado pelo fraudador. Os dados falsos do devedor circulam entre empresas de cobrança e o recebimento dessas chamadas indesejadas pode durar anos. 88% dos brasileiros já receberam esse tipo de ligação em seu celular. O problema aflige mais os consumidores das classes C, D e E (90%) do que aqueles das classes A e B (85%). Não há diferença significativa por faixa etária ou gênero.
E eu não sei disso? Há anos recebo a seguinte ligação: “o senhor é o senhor Sidney de Souza Rezende?”. Há anos digo não e peço para tirarem meu nome da lista. Adianta? Cheguei a descobrir a firma que me ligava, mas cadê o número para encontra-los? Fui até o Reclame Aqui e vi centenas de reclamações contra eles. O problema é que me falta tempo para ir atrás, teria de ir pessoalmente até lá, visto que eles retiraram todas as formas de contato telefônico.
Golpes por telefone: prepare seu estômago
O Brasil já é um dos países mais violentos do mundo – aliás nenhum governo, de esquerda ou de direita, de fulano ou beltrano, resolve este problema endêmico –, você sai e não sabe se volta vivo. Ok, então vamos ficar seguros em casa, certo? Errado.
Ainda de acordo com o estudo da Mobile Time, o Brasil tem uma longa tradição de golpes aplicados por telefone. São tentativas de estelionato em que os bandidos recorrem à criatividade para conseguir dinheiro ou dados pessoais da vítima para a realização de outros crimes. As histórias inventadas são variadas, mas algumas ficam bastante conhecidas, como o golpe do falso sequestro, em que o criminoso liga de madrugada e se passa por um filho da vítima em poder de sequestradores. 72% dos brasileiros dizem que já receberam chamadas no celular que eram tentativas de golpe. A incidência é maior entre homens (76%) que entre mulheres (69%). E cresce conforme a idade. No grupo de 16 a 29 anos, 66% já atenderam esse tipo de ligação. O percentual aumenta para 73% entre aqueles de 30 a 49 anos; e chega a 77% nas pessoas com 50 anos ou mais. A região Norte é aquela com maior incidência (83%) e a Sul, aquela com a menor (65%). Não há diferença expressiva por classe social.
O que mais me chamou a atenção é que 14% reconhecem ter caído no golpe – o que é uma taxa altíssima. A ingenuidade juvenil cobra um preço, pois o percentual é maior entre os jovens de 16 a 29 anos (18%), em comparação com o grupo de 30 a 49 anos (14%) e com aqueles com 50 anos ou mais (8%). A grande maioria das vítimas (77%) afirmam ter perdido menos de R$ 1 mil com o golpe.
ROBÔS, ESTAS QUERIDAS IRRITANTES COISAS
O uso de robôs para a realização de chamadas telefônicas é cada vez mais comum no Brasil. Em geral, eles servem para reduzir o trabalho do atendente humano, acionado somente a partir de um determinado momento do roteiro da ligação. Mas há também casos em que a chamada é operada inteiramente por um robô, com uso de inteligência artificial para compreender o que a pessoa fala e responder adequadamente. Aqui cabe ressaltar que nem todas chamadas feitas por robôs são spam. E essa tecnologia também é usada para finalidades de interesse do cidadão e da sociedade, como a transmissão de comunicados importantes ou a realização de pesquisas. Neste relatório, foi considerada como uma chamada de robô aquela em que a saudação é feita por uma voz gravada. Considerando essa definição, 88% dos brasileiros já receberam ligações de robôs. Isso é mais comum entre as pessoas das classes A e B (93%) do que entre aquelas das classes C, D e E (84%). A incidência é menor entre os jovens de 16 a 29 anos (80%), do que nos grupos com 30 a 49 anos (90%) ou 50 anos ou mais (89%). 90% das pessoas que já receberam esse tipo de chamada dizem que se sentem incomodadas com ela, com nota média de 4,7 para o grau de irritação.
ENTÃO O QUE FAZER? VEJA ALGUMAS DAS MEDIDAS TOMADAS
O receio de receber chamadas indesejadas faz com que quase a metade dos brasileiros (48%) nunca atendam ou quase nunca atendam ligações de números desconhecidos em seus celulares – você se identifica? A desconfiança é maior entre pessoas com 50 anos ou mais (51%). Essa medida acaba sendo uma barreira para o telemarketing ativo mas também para comunicações que poderia ser do interesse do consumidor – por exemplo, um alerta do banco sobre uma tentativa de fraude no cartão de crédito.
Com o objetivo de conter as chamadas indesejadas, 21% dos brasileiros utilizam algum aplicativo de bloqueio da mesma. E 30% afirmam que seus aparelhos são dotados desse recurso de forma nativa. Mas a medida mais comum, apontada por 45%, é realmente não atender ligações de números desconhecidos. Cerca de metade dos entrevistados (49%) declararam conhecer o serviço “Não me perturbe”, no qual se pode cadastrar um número telefônico para não receber chamadas de telemarketing. Entretanto, somente 21% inscreveram suas linhas 17). Dentre esses últimos, 75% afirmam que o resultado foi positivo, diminuindo pouco, diminuindo muito ou mesmo acabando definitivamente com o problema das chamadas indesejadas.
Vale lembrar que a maioria das ligações de telemarketing vêm das operadoras de celular. Um executivo de uma grande marca me disse como isso ocorre. A empresa que ele trabalha contrata firmas que são remuneradas mediante vendas de produtos adicionais ou recuperação de créditos. Quando recebemos uma ligação, o outro lado da linha se identifica com a marca da operadora quando na verdade é de uma empresa sub-contratada. Ficamos com raiva da operadora, claro, até porque é ela que está na linha de frente da ligação. E não adianta estrebuchar com a pobre pessoa que te ligou, está cumprindo ordens e deve seguir um roteiro de ligações.
Para piorar comecei a receber mensagens também no WhatsApp me oferecendo uma infinidade de serviços. E block nestas mensagens! Não vou nem mencionar o SMS – vários por dia.
E a LGPD-Lei Geral de Proteção de Dados? Fiquei muito bem impressionado em uma das apresentações sobre esta lei que indicava que não só as empresas seriam responsabilizadas pelo uso dos dados como também os seus diretores – em alguns casos, o uso seria considerado um ilícito, e, portanto, poderia colocar os diretores responsáveis no xilindró. Será que esta lei vai pegar no Brasil?
SITES ÚTEIS
O Jornal 140 compartilha algumas, vamos ver se funcionam para você.
A Fundação Procon SP (onde resido) dispõe de uma página na Internet que recebe cadastros para quem não quer receber contatos de telemarketing. Se você mora em outros lugares, vá ao Google e digite “Procon bloqueio telemarketing” para achar o serviço na sua cidade e estado. Mas haja paciência para ir atrás de todos estes serviços e apps, né?
Procon SP: https://bloqueio.procon.sp.gov.br/#/
Não me perturbe (Anatel): https://www.naomeperturbe.com.br/
Whoscall: aplicativo gratuito para Android e Iphone.
Treucaller: aplicativo gratuito para Android e IOS.