A população mundial sempre esteve à mercê de doenças infecciosas causadas por ingestão de alimentos contaminados. Como a Salmonelose causada pela bactéria Salmonella, a Amebíase causada pelo protozoário Entamoeba histolytica, a Listeriose doença infecciosa causada pela bactéria Listeria monocytogene, entre outras. No Brasil, a doença se relata desde 2016, contudo, sem preocupações maiores. Nos anos de 2020 e 2021 foram constatados diversos casos ativos e investigações da doença de Haff, nos estados do Ceará, Bahia, Recife, Pernambuco, Amazonas e Pará, todos diretamente ligados ao consumo de peixes e crustáceos contaminados, por conta disso a doença se torna preocupante. Diferente das infecções citadas, a doença de Haff ainda é um mistério, pois, ainda não se tem pleno conhecimento da natureza e origem da toxina causadora.
Informações pertencentes ao Ministério da Saúde relatam os primeiros casos da contaminação e o local onde se deram. No ano de 1924, em áreas do lago Friesches Haff, localizado nos territórios da cidade de Koningsberg, na Alemanha. Na época, de forma recente, a doença não causou maiores abalos, porém, a longo prazo houve um exponencial crescimento. Mais de mil casos foram relatados em um período de 15 anos (1924-1939) entre território Alemão e Estadunidense. Com o avanço dos estudos foi associado diretamente a infecção inicial ao consumo de pescados, na época, principalmente o peixe búfalo (Ictiobus cyprinellus).
De forma mais específica a doença de Haff causa danos nos rins e provoca uma rigidez aguda no sistema muscular, assim causando dor intensa, falta de ar, manchas espalhadas pelo corpo, rigidez muscular e o sintoma mais conhecido escurecimento da urina, por razão deste último traço a doença também é chamada de “doença da urina preta “. Por semelhança, a infecção foi comparada a um tipo de rabdomiólise, síndrome que atinge as fibras musculares esqueléticas e libera proteínas, eletrólitos e outros elementos para a corrente sanguínea. Os sintomas podem aparecer durante 24 horas após o consumo, ou seja, entre duas horas ou um dia inteiro depois.
No Brasil, os maiores registros nos anos de 2020 e 2021, foram treze notificações de casos na Bahia e nove no Ceará. A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia relatou que em comum todos os pacientes fizeram o consumo de pescado, três em específico consumiram o olho-de-boi (Seriola lalandi). Em Recife, duas irmãs fizeram o consumo do mesmo pescado. Por meio de pesquisas foram feitos levantamento das espécies ingeridas que causaram a doença, tendo como principais o olho-de-boi (Seriola lalandi), tambaqui (Colossoma macropomum), pacumanteiga (Mylossoma duriventre) e a pirapitinga (Piaractus brachypomus) como mais evidenciadas.
Ainda não se teve a obtenção de qual a natureza da toxina causadora das infecções, entretanto, por ela não apresentar alterações em sua estrutura nos momentos de alto calor devido ao cozimento ou fritura dos peixes, é considerada uma toxina biológica termoestável. Por conta de a mesma não sofrer ao calor, não alterar o sabor e nem a cor da carne é facilmente consumida e os indivíduos que fazem o consumo não têm mínima noção do contágio, só após aparecimento de sintomas.
Vários peixes já foram identificados como suspeitos de terem sido responsáveis pela doença. Nos casos de Recife, atualmente, o tambaqui é que tá sendo acusado. Mas a gente já teve casos com outras espécies de peixe. Existe a hipótese de que a contaminação seja no armazenamento ou no transporte dos animais”, diz Mônica Façanha, médica infectologista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC). Atualmente, a hipótese mais usada é da proliferação do patógeno devido à falta de cuidado no momento de manejo do exemplar.
Como maneira de prevenção à doença de Haff, por não ser uma doença transmissível, as únicas formas de evitar mais casos é a diminuição do consumo de pescados. Para parte da população para na qual esse ato seria inviável, é aconselhável uma melhor escolha do local de compra, onde o manejo seja correto e a conservação esteja em ótimo estado.
Caso ocorra contaminação, a especialista Mônica Façanha diz o que deve ser feito pela pessoa “Elas precisam procurar o atendimento médico, porque é preciso ver qual é a intensidade desse acometimento. E aí vai precisar de muita hidratação para a proteção do rim. O tratamento é basicamente hidratar e manter as funções dos órgãos vitais”. Dessa forma compartilhando cada vez mais formas de precaver e sanar sua proliferação, seus casos de forma rápida e satisfatória.
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