As plataformas de videoconferência e ensino a distância têm sido a salvação de muita gente graças a profissionais carismáticos do mundo fitness como Carol Borba e o professor Zé Yoga.
Antes da pandemia do Covid-19, os dois atuavam como personal trainer ou profissionais de escolas. Aí caíram na rede e na graça da galera – hoje são “coletive trainers”. Treinam e ajudam milhares de pessoas remotamente, em português, em todos os cantos do planeta.
Soluções são criadas para resolver problemas. Devido a necessidade da implementação do distanciamento social para a contenção do contágio pelo vírus, vários espaços de prática de atividade física foram impedidos de funcionar. Os praticantes de esporte no geral tiveram que migrar para os treinos e práticas online para manter o nível físico e mental.
Esse crescimento não se limitou apenas ao segmento de bem-estar. O setor de treinamentos/capacitação online também experimentou um grande crescimento durante a pandemia. Esse serviço é chamado de “infoproduto” – videoaulas, ebooks e apostilas que permitem aos produtores de conteúdo atender milhares de pessoas simultaneamente ou de forma assíncrona.
Nesta reportagem do Jornal 140, você conhecerá dois modelos de negócio que oferecem treinamentos online e como eles aderiram a esse mercado.
Carol Borba
Carol Borba é formada em educação física pela Universidade Estadual de Londrina e se destaca no campo de treinamentos online (os treinos Power). Além de compartilhar exercícios, a profissional produz conteúdos que envolvem todo o mercado fitness, como vlogs mostrando sua rotina, entrevistas com médicos e profissionais de outras áreas, e receitas saudáveis. Atualmente ela conta com mais de 4 milhões de inscritos no YouTube (veja aqui) e 1 milhão e 800 mil de seguidores no Instagram (aqui).
A educadora física começou lá atrás, no ano de 2016. Ela lidava com uma rotina extenuante por trabalhar presencialmente em uma rede de academias em Londrina, Paraná. Seus turnos de trabalho acompanhavam os picos de utilização da academia no começo da manhã, fim da tarde e início da noite. Além de trabalhar como personal trainer, na época ela ministrava aulas coletivas como Jump e Pump e coordenava a academia, contratando profissionais e fechando folhas de pagamento.
Ao sentir que o nível do seu trabalho poderia ser afetado pelo ritmo intenso de trabalho, ela conversou com uma coach de carreiras que abriu os seus olhos para o mundo online. A coach então lhe disse:
– Por que você ainda está dando aula em uma sala fechada, sendo que você pode dar aula para muito mais pessoas? Se você pode dar aula para 30 pessoas em uma sala, você pode dar aula para 30 mil na internet.
“Nesse momento eu comecei a enxergar a internet com novos olhos.” .
Apesar dessa mudança de pensamento, o caminho não foi simples. Caro diz que “demorei bastante para criar coragem para soltar os primeiros vídeos. Então, eu fui me preparando, gravei alguns vídeos, mas nem publiquei. Enfim, foi um longo processo.”
A empresária começou utilizando a plataforma do YouTube para postar seus conteúdos e paralelamente utilizava o Instagram para a divulgação do seu material. Um dos fatores apontados por ela para a opção por essa plataforma de vídeos é a possibilidade de assistir aos vídeos na TV de casa, o que facilita os treinos. Além disso, a plataforma possibilitou a monetização via o modelo AdSense.
As estratégias de negócios na internet foram surgindo à medida que ela ganhou mais experiência nas redes sociais. “Quando eu vi que começou a bombar na internet aí eu comecei a pensar em algumas estratégias para atender mais pessoas. Me mantive lendo os comentários, entendendo o que as pessoas buscavam ali, como dava para melhorar e por aí fui.”
Equipe de trabalho
Hoje sua equipe de trabalho é formada pela mesma coach de carreiras lá de trás, duas pessoas que gravam e editam seus vídeos e um videomaker, além das equipes de assessoria e manager. Eles a ajudam a manter a frequência das suas lives diárias de treino, os três vídeos semanais postados no Youtube e seu Instagram.
Durante a pandemia, Carol seguiu trabalhando: “a pandemia e a busca por exercícios para serem praticados em casa fez o meu trabalho ser mais visto. Como eu já tinha experiência nesse meio, com a chegada da pandemia as pessoas passaram a buscar mais conteúdos como esses porque as academias fecharam e precisavam treinar em casa e, assim, me encontrar.” Em 2020, só de março a agosto seu canal ganhou 1 milhão de inscritos em razão do isolamento social e a maior demanda de serviços online.
Sobre os benefícios que o trabalho com as redes sociais lhe proporcionou, Carol ressalta: “As redes sociais me proporcionaram muitas coisas e muitas conquistas, começando pelo fato de eu ser conhecida. Como muita gente utiliza redes sociais hoje eu estar ali me deu uma abertura de mercado muito grande, então mais gente da área começou a me conhecer e isso abriu muitas portas.”
Zé Yoga
José Corradi é conhecido como Zé Yoga nas redes sociais. Formado em jornalismo, seguiu para outro campo profissional e hoje ministra aulas de Yoga nas redes sociais. Atualmente conta com mais de 20 mil seguidores no Instagram (aqui), onde oferece cursos de formação em Yoga, retiros e lives.
O profissional iniciou suas atividades nas redes sociais com a chegada da pandemia. Até então Zé dava aulas em um estúdio de Yoga presencialmente. “Quando comecei todo mundo estava confinado em casa. Precisava continuar dando aula, mas não pensava ainda no fator econômico porque não sabia o que ía acontecer. Então eu só queria dar aula para o pessoal ter um apoio. Não ficar todo mundo em casa maluco.”
A partir dessa necessidade, José começou a utilizar o Instagram profissionalmente. Organizou seus horários e começou a ministrar aulas de Yoga ao vivo às 8h da manhã e às 16h. Segundo Zé, “tudo começou a dar certo normalmente, começou a dar público. O dar certo é isso, ter público. No primeiro mês e meio eu não tinha contribuição. Era aula por aula e eu não pedia nada.”
Lives no Instagram, chova ou faça sol
Seu Insta pegou. Durante as aulas, chova ou faça sol, frio ou calor, Zé está lá todos os dias, em sua live que começa às 8h da manhã. Sempre bem humorado, sempre rindo.
Esse modelo de aulas foi muito importante, na opinião de Zé, já que durante a fase mais restrita da pandemia as pessoas passaram de três a cinco meses completamente sozinhas em casa, ou o oposto – com várias crianças e adultos ao seu lado. As aulas ajudaram a resgatar o sentimento de participar de um grupo, de criar relações que o distanciamento social impediu.
A ideia de monetizar o serviço surgiu posteriormente. “Quando eu vi que o retorno presencial não seria tão breve e que as escolas seguiriam fechadas vi que precisaria de arranjar alguma forma de ganhar dinheiro. Nesse tempo havia alunos pedindo para contribuir, mas eu não aceitava porque queria entender antes os rumos da pandemia. Até que chegou uma aluna que decidiu doar independentemente do que eu falasse porque ela queria contribuir com o meu serviço.”
Zé foi aprendendo na prática como utilizar as plataformas digitais para a produção do seu conteúdo. “Eu fui fazendo. Comecei a fazer as aulas, aconteceu de dar certo e eu acabei usando o Instagram (até hoje). Fui aprendendo no dia a dia.” Uma coisa que José sempre teve atenção foi com a frequência do seu conteúdo. No início ele produzia muitas lives e materiais; “o importante é que o aluno saiba que você está lá, está presente e se preocupando em oferecer o máximo de conteúdo possível”.
Zé Yoga não desenvolveu estratégias mirabolantes ou contratou terceirizados (ainda). É ele quem grava, edita, faz publicidade e atende os alunos.
Apesar do aumento da carga de trabalho, ele vê um modelo de trabalho mais rentável do que o seu anterior, quando era funcionário da escola de Yoga. “Eu trabalhava por um salário. Então, por mais que eu levasse mais alunos para a escola, o meu salário era o mesmo. Isso não mudava, não tinha como você escolher dar mais ou menos aulas. Trabalhando de casa passou a ser mais rentável, mas eu passei a trabalhar mais.” Se antes ele se limitava pelo número de alunos e pelas estruturas físicas das salas de aula, que, a depender do seu tamanho, comportavam por volta de 14 alunos, hoje ele consegue atender cerca de 150 alunos diários nas redes sociais. No pico da pandemia esse número chegou a 500 alunos.
Sobre os benefícios colhidos por essa migração do trabalho presencial para o online, Zé comenta: “Um dos ganhos com certeza foi atingir muitas pessoas, e isso monetariamente falando. Hoje quando eu vou fazer um retiro de yoga eu levo muito menos tempo do que antes da pandemia para completar a lista de inscritos para o retiro. Se antes eu levava três meses, no auge da pandemia eu cheguei a levar duas horas. Hoje deve ser um meio termo disso. Às vezes o que eu deixava de ganhar nas aulas online pelas contribuições voluntárias eu ganhava nos retiros.”
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