Exatamente no dia 03/09/2020 era publicado meu primeiro artigo para o jornal, refletindo o momento histórico em que nações e empresas trocavam informações para o desenvolvimento e obtenção das vacinas que hoje são distribuídas mundialmente. Um princípio nada modesto onde a questão era a ordem social, a vida, e a dignidade humana. Decorrido esse tempo, o que é perceptível no comportamento daqueles que sobreviveram ilesos e daqueles que carregarão de forma direta, a tragédia existencial que nos assolou?
Naquela tarde de 2020 era impossível saber se o vírus chegaria tão próximo daqueles que mantiveram as medidas de segurança e o isolamento, uma vez que as noticias eram conflitantes e a ciência ainda caminhava nos testes com as vacinas, mas uma coisa era certa: a sociedade não seria mais a mesma. A tensão entre o individualismo e o humanismo já vinha acirrada anos antes gerando polarizações, discursos por retrocesso ganhando ruas e palanques, bem com ondas de violência quando foi noticiado o primeiro caso em solo europeu. Rapidamente se espalhou chegando a nosso solo em pleno carnaval se difundindo inicialmente entre a classe media alta e depois entre a população de baixa renda.
A pandemia fez o mundo parar gerando muitas reflexões e movimentos de conscientização sobre a sobrevivência no planeta, mas com foco na constatação da capacidade de recuperação desde que tomada providências urgentes. Nesse clima de desespero e insegurança, a união através da cooperação globalizada fez toda diferença. A ciência avançou a passos largos nunca antes visto gerando inclusive duvidas na eficácia das vacinas, mas rapidamente decaindo devido à comprovação na diminuição nos casos de morte e internações. Novos remédios e drogas vêm sendo desenvolvidas trazendo luz para tempos tão sombrios. Um tempo que jamais será esquecido no luto das famílias, no empenho e sofrimento dos profissionais da saúde, na solidariedade daqueles que cuidaram dos que passavam fome.
A Espiritualidade avança em meio às nações através do reconhecimento de sua responsabilidade no direito a qualidade de vida, dignidade e as liberdades, movimentando gradativamente e inspirando novos personagens e personalidades. Um ciclo muito grande foi finalizado e outro iniciado com a pandemia: o individualismo evoluirá lentamente para a noção de individualidade; e a humanidade se reconhecerá no todo e no cultivo do equilíbrio. Nas palavras de Zygmunt Bauman:
** É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita. O Jornal 140 não se responsabiliza pela opinião dos autores deste coletivo.“O que aprendemos com a amarga experiência é que essa situação de ter sido abandonado à própria sorte, sem ter com quem contar quando necessário, quem nos console e nos dê a mão, é terrível e assustadora. Mas nunca se está mais só e abandonado do que quando se luta para ter a certeza de que agora existe de fato alguém com quem se pode contar, amanhã e depois, para fazer tudo isso se – quando – a roda da fortuna começar a girar em outra direção”.