A primeira versão de Fraggle Rock – A Rocha Encantada, chegou às telas do Canadá, Estados Unidos e Reino Unido, em 1983, trazendo todo o carisma e técnica dos conteúdos criados pela Jim Henson, a produtora do criador do Muppet Show e de filmes consagrados como O Cristal Encantado (1982) e Labirinto (1986). A série mostra um mundo subterrâneo habitado por divertidas criaturas que tem muita curiosidade em conhecer o mundo dos homens. A ideia da série era promover discussões importantes como preconceito, espiritualidade, defesa do meio ambiente e conflitos sociais, mas focado diretamente no publico infanto-juvenil. A série ficou cinco temporadas no ar, mas infelizmente, nunca chegou ao Brasil.
Felizmente isso mudou com o avanço dos canais streaming como a AppleTV+ que não só colocou no ar a nova versão de Fraggle Rock, como também trouxe para o público brasileiro. O canal streaming convidou um grupo de jornalistas, para conversar com os produtores e criadores da nova série, Matt Fusfeld e Alex Cuthbertson. A dupla já trabalhou anteriormente em outras séries como Community, Single Parents e New Girl. O jornalista Paulo Gustavo, do Jornal 140, fez parte dessa mesa-redonda virtual.
Como foi pegar uma criação dos anos 80 e trazê-la para o século 21?
(Alex) Nós conversamos muito sobre isso durante a pré-produção. Nós amamos o original e nosso objetivo era preservar a essência e a alma. Obviamente, estamos fazendo uma série com muitos avanços da tecnologia. O trabalho das câmeras propiciou uma maior imersão no visual da série, com mais profundidade. De uma maneira geral, a nova série é maior do que a original, ao mesmo tempo em que criamos situações para ir mais além do que se fez nos anos 80. Com isso, e com o apoio da AppleTV+, conseguimos criar um arco de história mais efetivo e interessante, e vez de termos histórias isoladas por episódio. Sem contar que criamos num novo grupo de criaturas bem divertidas que se chamam Craggles.
Vocês vieram de séries importantes como Community, New Girl e Single Parents. Foi melhor trabalhar com bonecos do que com atores? Eles reclamam menos?
(Matt) – Risos… É muito diferente trabalhar uma série com atores ou mesmo uma animação. Na animação, tudo aquilo que você imaginar é possível fazer. Nosso pessoal desenhou os storyboards mas o trabalho mesmo, está no desenvolvimento de cada cena e com os manipuladores dos bonecos. Tivemos que aprender a trabalhar com o espaço limitado que se tem numa produção desse tipo. É claro que trabalhar com atores exige um cuidado maior em como lidar em situações complicadas. Mas no nosso caso, temos a sorte de trabalhar com um tipo de ator que sabe exatamente o que tem que fazer. Eles não só emprestaram suas vozes para criar a personalidade de cada um dos personagens de Fraggle Rock. Eles sabem transformar aquele trabalho num ato de magia. São atores e muito talentosos
(Alex) Nós trabalhos nessas séries que você mencionou e o trabalho em Fraggle Rock é basicamente o mesmo. Estamos juntos com o elenco, que adora o que estão fazendo, que discutem como melhorar determinada cena. Basicamente, é como trabalhamos anteriormente.
Fraggle Rock é muito difertida. Como você mantém o nível do divertimento dos episódios?
(Alex) Do jeito que eles foram concebidos para a primeira série, os personagens pareciam ser histéricos demais, mas divertidos, especialmente em episódios onde brigavam uns contra os outros para criar uma situação engraçada. Fizemos isso usando a personalidade de cada um para criar situação engraçadas. Você o Wembley, Bo, Red e Boomer, basta apenas fazer algumas combinações entre eles para ter um resultado divertido. Conseguimos encontrar um jeito de fazer comédia sem precisar criar conflitos exagerados, porque os personagens têm uma energia própria. E isso foi uma benção para nós. Os personagens são tão bons que adultos e crianças se divertem com eles. Acredito que o público infantil consegue absorver as mensagens porque elas entendem o que está acontecendo naquela cena. Os Fraggles continuam ingênuos e alegres, e isso é o lado positivo de suas histórias.
Que temas vocês acham que exploraram diferente da série orginal?
(Matt) Jim Henson tinha um objetivo mais geral na época através do programa mostrar a estupidez das guerras e lutar pela paz mundial. Era uma mensagem relevante naquele tempo, mas hoje, mesmo sendo importantes, hoje temos temas mais sombrios. Discutir a morte ou porque as pessoas mentem. Nosso objetivo era revisitar vários temas desse tipo, ao mesmo tempo discutir que fatos são mais importantes do que narrativas.
(Alex) Fizemos um episódio que toca nesse tema. Assim como discutimos a questão do consentimento, especialmente nas relações familiares. Hoje, vemos muita coisa desagregada. Sou de um tempo que não se perguntava se posso abraçar uma pessoa que gosto. As crianças hoje têm mais autonomia, tem seus próprios objetivos. Pode parecer alguma coisa mais adulta, mas é o que está acontecendo hoje com essa busca incessante pela sua própria voz. Essas discussões é o que nos leva a fazer uma série muito empolgante e emocionante. Lisa Henson mencionou isso em algumas de nossas primeiras reuniões como sendo uma coisa muito importante para se entrar. E eu estava realmente orgulhoso da nossa série ser capaz de fazer isso no final da temporada.
(Matt) Veja quando Wembley se torna o porta-voz dos fraggles e a fama lhe sobe a cabeça. É o que vemos hoje nesta cultura do Instagram, que mede sua popularidade instantaneamente. Conseguimos derrubar parte desse conceito num dos episódios, mas de uma forma divertida. Apenas com o questionamento de que você precisa ser uma boa pessoa e não precisa de likes para isso.
Como se deu a aproximação da AppleTV+ para esse projeto?
(Alex)Foi um monte de fatores. A Jim Henson estava querendo reviver Fraggle Rock de várias maneiras há muito tempo, incluindo um filme que estava em desenvolvimento. Por algum motivo, o projeto nunca foi pra frente, mas o interesse deles era grande. Quando a AppleTV+ entrou no circuito, eles já estavam conversando com a Henson para trazer Fraggle Rock para o conteúdo original. Aí veio a pandemia e, ao contrário do parecia, nasceu uma sólida parceria para desenvolver o projeto.
(Matt) Tudo acabou funcionado muito bem pra todo mundo. Nós queríamos fazer uma nova versão de Fraggle Rock, mas sem deixar de lada a origem da série de Jim Henson. Queríamos aproveitar o melhor da tecnologia de hoje para trazer uma nova visão do mundo dos Fraggles e suas divertidas aventuras.
Os cenários tem muitos elementos, como água, ventilação etc. Como foi trabalhar com essas novas dimensões?
(Alex) A nova tecnologia serviu muito como uma ferramenta de trabalho. Tudo estava sendo usado para fazer um programa muito bom, muito incrível. Tudo foi construído para facilitar o trabalho dos atores que, tinha que ficar escondidos enquanto manipulavam os bonecos. Tudo foi feito levando-se em conta a praticidade do cenário. A água é de verdade, os túneis são reais, a queda d’água também. Tudo isso foi feito em vários estúdios em Calgary, no Canadá.
(Matt) Nos tivemos a sorte de trabalhar com pessoas talentosas. Foi uma experiência extraordinária.
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