“O principal objetivo é a satisfação do cliente, a satisfação dos funcionários, sua posição no mercado como um bom membro da comunidade, sua vontade de retribuir à comunidade que lhe dá algo, sua vontade de ser responsável pela pegada que você deixa no seu mercado e como isso afeta seus vizinhos e sua família e amigos.” Em plena era da busca do lucro alto, rápido e voraz, é nessa ordem que Marcus Lemonis define as prioridades de um empreendimento de sucesso. Não deixa de ser surpreendente para quem o vê em O Sócio, série que está em sua oitava temporada e onde Lemonis oferece seu próprio dinheiro para salvar empresas à beira da falência. Embora, claro, a oferta não seja uma benemerência.
“Eu me considero um capitalista, o que significa que eu amo negócios”, explica Lemonis. Sua ajuda aos empreendedores escolhidos o transforma em sócio da empresa, que pode ser um restaurante, uma confecção, uma fábrica de pipocas ou, como em um dos casos da nova temporada, uma apicultura. Não importa o ramo, Lemonis entra com força exigindo dos participantes que conheçam os números de seus negócios, que apresentem sua linha de produção, custos e, acima de tudo, que conheçam suas equipes e seus clientes. Não faltam episódios em que o processo de reorganização leva à saída de pessoas que estão nas empresas apenas por laços familiares ou de amizade, sem exercer uma real função e gerando despesas. Não faltam desavenças e enfrentamentos entre as pessoas das empresas e também entre os empreendedores e Lemonis, que aplica seus conhecimentos do mundo dos negócios independentemente do ramo da empresa retratada no episódio do programa.
“Eu acho que o que eu faço é tentar encontrar oportunidades para ensinar uma lição para que outros empreendedores possam entender o que eles têm que fazer ou não fazer para serem bem-sucedidos. Acho que ao longo dos anos lutamos para contar todas as histórias lá fora. Vimos vários problemas nas diferentes histórias que surgiram com diferentes ângulos, sejam problemas na sociedade empresarial ou um relacionamento ruim. E a ideia é que as pessoas podem realmente perceber que há algo a aprender aqui”, explica Lemonis. O que não quer dizer que o próprio Sócio não tenha aprendido algumas lições após oito temporadas e, segundo seus cálculos, 70 milhões de dólares investidos. Investimentos que, aliás, nem sempre dão certo.
“Eu acho que o importante, como empresário, seja o proprietário ou alguém que quer ter um negócio, é saber que nem todas as decisões que você toma vão funcionar. E está tudo bem para mim que as pessoas vejam quando as coisas não dão certo, quando eu falho, quando estou errado e quando as coisas vão bem. Minha definição de sucesso não é puramente econômica”.
Lemonis também comentou durante a entrevista com a imprensa internacional que agora, casado e com mais idade, sente-se mais sábio e reconhece que algumas empresas precisam apenas de disciplina e não de dinheiro, ou que ao longo do tempo ele tenha tomado decisões com excesso de rapidez. Não há, também, como evitar o fato de que a Pandemia interferiu em todo o cenário mundial, especialmente na vida das empresas. “A pandemia afetou empresas em todo o mundo e, infelizmente, quanto menor o negócio, pior o impacto, por causa de recursos limitados. Mas, fico feliz em dizer que, por outro lado, mais recentemente as empresas menores se saíram muito bem, porque as pessoas estão voltando e os consumidores têm uma mentalidade diferente sobre de quem eles querem comprar. Eu acho que o mais importante é que se você tem um negócio hoje, uma empresa, tudo o que a pandemia nos ensinou é que você tem que ter uma tecnologia muito boa, não importa o quão pequena ela seja. Porque se você tem uma floricultura, uma loja de bicicletas, uma padaria, ou você é um encanador, você tem que ter uma maneira de os consumidores se comunicarem com você, não é apenas baseado no cara-a-cara. Então aprendemos sobre entrega, contato e relacionamentos remotos, remessas, contato online. E acho que isso de alguma forma nos fez melhores. Sem esquecer, é claro, que a pandemia foi muito dura e muitas vidas foram perdidas”, analisou Lemonis.
O empresário também comentou sobre outra mudança no cenário de atuação das empresas, a aceitação de criptomoedas e os NFTs. “Os NFTs são um conceito difícil para a maioria dos empreendedores entender. Mas se eles têm um ativo, uma certa tecnologia e eles acham que podem explorar ou monetizá-lo legalmente de uma maneira diferente, então nesse caso não haveria problema em fazer pesquisa e tentar entender”, analisa Lemonis. Quanto às criptomoedas, o empresário é cauteloso quanto ao risco, em especial para os pequenos negócios. “Em termos de aceitar Bitcoin, comecei a aceitá-los em alguns dos meus negócios, mas o que eu diria é sair do negócio de aceitá-los e trabalhar com plataformas que lhes permitem trocá-los. Quando entramos em um negócio, usamos um cartão de crédito e usamos um processador de cartão de crédito, o que significa que não estamos especulando ou assumindo qualquer risco associado ao crédito”, ele explica, “na criptomoeda é a mesma coisa, você deve pensar nela como uma forma de pagamento para todos os negócios do mundo. Mas você precisa fazer parceria com um processador respeitado e bem segurado”. Na opinião de Lemonis, “eu não acho que as pequenas empresas podem se dar ao luxo de correr esse risco, mas elas devem fazer o que o cliente pede, que é estar mais aberto a diferentes moedas”.
Hoje gestor de 14 mil funcionários, cujas famílias considera sua responsabilidade, e uma fundação dedicada a apoiar o empreendedorismo entre mulheres e minorias, Lemonis nasceu no Líbano em meio à guerra civil no país. Adotado por um casal americano, o empresário reforça com frequência a responsabilidade dos empreendedores com a sociedade. “O mais importante, eu me considero um capitalista consciente. E o que isso significa é que você não faz do lucro o objetivo principal”.
History Channel, segundas, 21h.
** É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita. O Jornal 140 não se responsabiliza pela opinião dos autores deste coletivo.