Maturidade, nunca pensei que sequer iria considerar o que seja isso. Hoje, sobrevivente, aos 74, coleciono uma série de descobertas e algumas questões que emergem nesta época. Descobertas: o Mal existe, é potente, hidrofóbico, sedento. Sem uma cultura espiritual, que nos ajude a lidar com o inconsciente, não tem saída; no meu caso, sem os ensinamentos do Cristianismo, a conta não fecha. Alguém pode argumentar, propriamente, que a conta nunca fecha; de fato. Mas é nossa tarefa tentar caminhar nesta direção, a do Bem. Sem esquecer que o que achamos que seja o Bem, pode não sê-lo, inapelavelmente.
A mulher é quem manda, ponto. Riquezas a partir de um nível só servem para gerar mais riquezas, nada mais. Voce tem bilhões, tem que fazer girar, produzir, espalhar, quanto mais melhor – até o nível que o planeta suporte, of course. Já pensou, por exemplo, quanto de riquezas que um palácio, um iate, um haras geram ? Pensa em quanta gente precisa para cuidar de um palácio, jardins, encanamentos, pintura, alvenaria, vidraçaria, limpeza, segurança, é um sem fim. Um iate, idem. Riqueza gera riqueza, simples assim. O cemitério está cheio de gente insubstituível, estamos aqui de passagem, não valemos nada a não ser que a sorte nos enseje, permita, ensine a amar alguém, alguéns, os outros. Deixar um legado ! A vida é um sopro.
Aqui se faz, aqui se paga
Quem pensa que somos uma individualidade esquece que precisamos de oxigênio direto, a cada instante, e que temos que achar o que comer todos os dias, ou seja, nós somos apenas um pedacinho do cosmos, inapelavelmente, umbilicalmente unidos ao todo. Aqui se faz, aqui se paga. Deus me concedeu a sorte, o destino privilegiado de poder tentar ser que eu quis ser e não quem eu fui, de poder ter levado uma vida que só me honra e orgulha, com um passado que teima em vir me expor tantas coisas legais, de ter feito o que foi feito, quem diria, o mané aqui ? Tem o desejo, implacável. E o inconsciente, unconnu. É uma maré impiedosa, no fim arrisco a dizer somos todos água do mar, marés, ondas que aprendemos a respeitar no esporte da alma que é o Surf, e ter por alguns momentos a sensação espiritual, legítima de ser um com o todo, de voltar a ser o que sabemos que fomos um dia nos tempos passados e que esperamos ardentemente voltar a ser em um dia ainda por vir.
O tempo é uma ficção
Hoje vivemos mais vinte, trinta anos a mais, com saúde. O que esta gente que recebeu a graça da vida tão generosamente vai fazer com a civilização ? Vamos enfim, melhorar. E os autômatos, os robôs, a Inteligência Artificial, que será de nós, singularity in near, already here. Viveremos em cocoons como em Matrix, alheios do real, felizes da vida como em sonhos felizes ? Virá o Salvador ? Percebo a cada dia que este corpo físico não é exatamente ‘eu mesmo’; que é um suporte que temos que cuidar com atenção e carinho, direto. Mas não sou eu, eu estou representado, digamos, apoiado por ventura, nesta coleção de células, bactérias, virus que nos mantém fisicamente de pé. E que tem um tempo de duração – graças a Deus, ninguém que tenha um tico de sabedoria deseja viver mais do que já vivemos. Li que o tempo é uma ficção, que tudo é ao mesmo tempo agora. Fiz uma forcinha e achei que tem a ver, as vezes sinto que flutuo nos tempos, que existem muitos de outrora em mim e muitos dos que virão também. É, foi isso que me ocorreu lhe dizer, prezada leitora, leitor, nesta época de pandemias, guerras inacreditáveis, incertezas abundantes e maravilhas à espreita, prontas para nos surpreender…
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