Ontem, dia 26 de abril, a empresa de rede social Twitter, Inc. anunciou que se tornará uma empresa privada, após a conclusão da transação de U$ 44 bilhões por uma empresa de Elon Musk, que pagou U$ 54,30 por ação ordinária em dinheiro.
Segundo comunicado do Twitter, o preço de compra representa um prêmio de 38% em relação ao preço de fechamento das ações do Twitter no dia 1º de abril de 2022, que foi o último dia de negociação antes de Elon Musk divulgar sua participação de aproximadamente 9% no Twitter.
O que representa este negócio?
O Twitter foi lançado em março de 2006 por quatro empreendedores, Jack Dorsey, Evan Williams, Biz Stone (que veio uma vez ao Brasil trazido pelo Sérgio Motta Mello e Selma Santa Cruz, da TV1) e Noah Glass. Era então chamado de “microblogging”, em função dos recém-lançados telefones conectados à rede 2,5Gtz digital. Lembrando: os telefones celulares até os anos 2.000 utilizavam redes analógicas e só eram capazes de transportar sinais de voz. Com a digitalização da rede, os operadores conseguiram transportar mais camadas de serviços, além de voz, como o SMS. Os criadores do Twitter vislumbraram que era possível enviar textos (por esta nova camada digital) na tela do SMS. O tamanho? 140 caracteres. Este número, é bom lembrar, inspirou a criação do Jornal 140 e da agência de marketing digital 140 Online.
Depois, com o lançamento dos smartphones, o Twitter continuou a sua trajetória, embora ofuscada por outras redes sociais que entregavam uma experiência ainda mais imersiva e próxima da televisão. A sua grande vantagem continua sendo a de trazer muito mais atualizações no feed do que qualquer outra rede social. No Brasil, o Twitter é uma rede relativamente pequena, tem cerca de 19,05 milhões de contas ativas, contra os 138 milhões do YouTube, Facebook (116 milhões), Instagram (119,5 milhões), TikTok (74,7 milhões) e LinkedIn (52 milhões) – dados da Data Reportal (9 de fevereiro de 2022).
O principal modelo de negócios do Twitter é a venda de espaço publicitário, com foco no mercado de pequenas e médias empresas. A receita total em 2021 foi de mais de US$ 5 bilhões em receita anual, um aumento de 37% no ano. Ou seja, o negócio foi avaliado pelo Elon Musk por um múltiplo de oito vezes em relação à receita total anual.
Liberdade de expressão
Duas coisas chamam a atenção neste negócio. A primeira é a intenção do Elon Musk: a defesa de liberdade de expressão” (free speech in the bedrock of a functioning democracy”) e a vontade de transformar o Twitter em uma praça digital de debates (“Twitter is the digital town square where matters vital of the future oh humanity are debated”). Musk é um defensor da liberdade de expressão. No dia 19 de abril publicou o seguinte tweet: “A política de uma plataforma de mídia social é boa se os 10% mais à esquerda e à direita forem igualmente infelizes”.
A segunda é a tentativa de melhorar a experiência do usuário em relação aos bots e uso excessivo de SPAMs, trazendo mais “humanos” para dentro da plataforma. Musk vai além e escreveu que o objetivo agora é deixar “os algoritmos de código abertos para aumentar a confiança” dos usuários.
Um dos fundadores, Jack Dorsey, também um defensor radical da livre expressão, escreveu (no Twitter obviamente) que “a ideia e o serviço são tudo o que importa para mim, e farei o que for preciso para proteger ambos. O Twitter como empresa sempre foi meu único problema e meu maior arrependimento. Tornou-se uma propriedade de Wall Street e refém do modelo de anúncios. Tirá-lo de Wall Street é o primeiro passo correto”.
Ainda segundo o comunidado do Twitter, a transação foi aprovada por unanimidade pelo Conselho de Administração do Twitte e deve ser concluída em 2022, sujeita à aprovação dos acionistas do Twitter, ao recebimento das aprovações regulatórias aplicáveis e à satisfação de outras condições habituais de fechamento.
Quando eu e o Rafael Sartori, da agência ZionLab, lançamos o Jornal 140 há três anos, o nosso objetivo era entender o impacto da digitalização e sabíamos que a transformação digital varria, como um Tsunami, todos os modelos de negócio, o que chamamos de “comunicação em tempos de cólera”.
Passamos por momentos difíceis e de muita pressão principalmente quando a rede exigia uma posição política, que recusávamos a adotar. Também acreditamos na máxima adotada por Elon Musk que a política de um veículo de mídia é boa se os 10% mais à esquerda e à direita forem igualmente infelizes.
Vida longa ao Twitter.
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