Durante o ano de 1943 a América Latina ganhou de presente um quadro do uruguaio Joaquim Torres García, onde o artista propunha uma América Invertida, uma provocação cartográfica que situava nossa localização no topo do mundo.
Essa provocação tem sido revivida nos últimos anos, sobretudo quando propomos a ascensão de uma história “decolonial”, isto é, uma leitura do tempo e espaço que aborde visões de mundo diferentes da eurocêntrica.
Em linhas gerais podemos apontar dois parâmetros para fabricação de um colonizado, são eles: colonialismo e colonialidade.
O primeiro diz respeito a aspectos políticos e econômicos, que podem ser traduzidos através da relação entre colônia e metrópole, por elos como limitações comerciais e imposições militares.
O segundo, por sua vez, atua numa zona mais delicada: o pensamento. A colonialidade é a construção do imaginário no colonizado fundamentado pelas perspectivas do colonizador. Nesse sentido internalizamos noções de mundo, como leituras, músicas, teorias, arte e cultura com raízes no pensamento eurocêntrico.
Nesse âmbito, a ruptura na condição de colonizado costuma ser mais enérgica no primeiro ponto, acerca do colonialismo, envolvendo aspectos como as lutas de independência e busca pela soberania nacional. Contudo, muitos países independentes, do ponto de vista político, mantém a colonialidade do pensamento de forma intrínseca.
Esse modelo tem sido base para a imposição de projetos “civilizatórios” a culturas tidas como atrasadas e para a construção de um complexo de inferioridade nos países colonizados, legitimando etnocídios e outras variadas formas de violência.
Nesse âmbito, pontuamos uma importante reflexão de Torres García, com valor equivalente ao seu mapa:
“Admita-se como você é, pequeno ou grande – esse negócio de tamanho pensas que é uma coisa pequena – e coma seu pão sem olhar para o prato do vizinho. O que ele se importa se você é dono de si mesmo, isto é, se você finalmente, você tem você mesmo? Que quando você tiver aprendido a amar a si mesmo da maneira que deveria, quando você vive para si mesmo – eu não vou induzi-lo ao egoísmo; Falaremos disso – quando você amar tudo o que é seu, e o defender, e mostrar sem constrangimento, e recusar o outro, – não importa o quão bom seja – porque não vem para você, eu juro! Mais filosofia – e será barato – do que a quantidade que você poderia encontrar nos livros. E terá uma vantagem: que sairá de um molde, nem pequeno nem largo, porque será feito ao seu tamanho.”
Nesse sentido, o primeiro passo para um pensamento decolonial é a aceitar sua cultura local e valorizá-la. Libertar-se e mostrar ao mundo que ama o que é seu.
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