Caros leitores, vocês muito provavelmente devem estar se perguntando: por que o valor do Bitcoin caiu tanto agora em junho de 2022? Eu tenho Bitcoin e outros criptoativos, e agora? Devo vender para não perder ainda mais dinheiro? Ou será o momento certo para investir e comprar? Quais as perspectivas do mercado de criptomoedas para os próximos meses?
Primeiramente, conforme havia dito em meu artigo anterior, de que percorreria por alguns temas mais conceituais antes de tratar do mercado de criptoativos propriamente dito, fatos importantes aconteceram semana passada que justificam um hiato entre a cronologia dos temas inicialmente pensados.
O preço do Bitcoin precisamente em 19/06/2022 (data que estou escrevendo este artigo) chegou a ser transacionado por U$17.960,41 – valor mais baixo desde o início do mês de dezembro de 2020. Vale lembrar, que o Bitcoin alcançou seu patamar histórico em 07/11/2021, sendo comercializado a U$69.000,00.
Quando me perguntavam no segundo trimestre do ano passado sobre as perspectivas do preço do Bitcoin para 2022, minha resposta era de que tudo levava a crer que a moeda “bateria” os 100 mil dólares.
Contudo, não havia como prever a ocorrência de diversos fatores que, somados, impactariam tão expressivamente o mercado das criptomoedas.
Inicialmente, o surgimento da variante Ômicron do coronavírus; o lockdown de cidades na China; seguido pelo início da guerra entre Ucrânia e Rússia; o desabastecimento global; a queda de 100% do valor da criptomoeda Terra (Luna); e os seguidos aumentos da taxa básica de juros americana.
Variante Ômicron do coronavírus e o lockdown em cidades chinesas.
Com o surgimento da variante Ômicron do coronavírus e o lockdown de cidades chinesas, diversos setores produtivos ficaram paralisados. Dessa forma, gerou-se uma instabilidade generalizada no sentido de que a nova variante do vírus poderia causar outro isolamento social mundial.
E, em virtude da paralização de indústrias chinesas, o desabastecimento global seria um caminho natural, pois, como é sabido, a China é um dos maiores fornecedores de inúmeros insumos para todo o planeta. Portanto, a oferta seria muito menor que a demanda, causando, consequentemente, o aumento dos preços, especialmente das commodities. O que de fato ocorreu.
Esse foi o início da queda do Bitcoin.
Guerra entre Ucrânia e Rússia e o desabastecimento global.
A guerra entre a Ucrânia e a Rússia foi e continua sendo um dos maiores causadores do desabastecimento global, uma vez que ambos os países possuem imensa representatividade no fornecimento de gás natural, petróleo, carvão, trigo, milho, grãos em geral, metais, neônio, paládio, entre outros.
Mais uma vez, com a oferta e demanda completamente desequilibradas, a produção de diversos itens e o abastecimento mundial foram afetados causando a elevação dos preços, o aumento acentuado da inflação americana e, por efeito em cascata dos demais países, especialmente os mais pobres.
Assim, o sentimento de insegurança foi instalado entre os investidores, levando o Bitcoin e, automaticamente outras criptomoedas, à desvalorização.
Queda de 100% do valor da criptomoeda Terra (Luna).
Sem entrar em detalhes técnicos (deixaremos para outra oportunidade), a criptomoeda Luna “funcionava de acordo com o mecanismo” da stablecoin TerraUSD (UST). De maneira suscinta, uma stablecoin na tradução literal é uma moeda considerada estável e no caso em tela pareada ao dólar americano (1 dólar americano igual a 1 UST). Todavia, o UST do protocolo Terra não possuía um “lastro real”, mas um lastro com base em algoritmo. Sendo assim, para que a moeda permanecesse estável, ela dependia da criptomoeda Luna, ou seja, as duas moedas trabalhavam em paralelo para manter o “equilíbrio”.
Entretanto, esse “equilíbrio” foi quebrado a partir do momento em que tiveram ordens simultâneas de venda e liquidações de UST na casa de centenas de milhões de dólares o qual o “processamento de dados” da empresa por trás do protocolo não conseguiu acompanhar.
Na tentativa de “segurar” a stablecoin, a empresa vendeu mais de 80.000 bitcoins no mercado e paralelamente emitia mais moedas Luna com o mesmo objetivo (nenhuma das duas estratégias funcionaram).
Com isso, houve uma oferta muito maior que a demanda da criptomoeda Luna que em março desse ano alcançou os U$119,55 caindo no mês de maio (em apenas 7 dias) para U$0,0000.
Automaticamente, com a venda de mais de 80.000 bitcoins pela empresa do protocolo Terra (aumento de oferta), a queda e descontrole da paridade do UST com o dólar americano e a queda de 100% da criptomoeda Luna, levou mais uma vez o preço do Bitcoin para baixo.
Importante destacar, que quase na totalidade das vezes, o preço do Bitcoin é que afeta diretamente o valor das outras criptomoedas e não o inverso. No entanto, no caso do UST e Luna, por seu impacto radical no mercado das criptos, levou à queda do Bitcoin e das demais criptomoedas.
Aumento da taxa básica de juros americana.
Levando em consideração todos os fatores anteriormente mencionados como a variante Ômicron do coronavírus, os impactos do desabastecimento causados pela guerra entre Ucrânica e Rússia, o Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos) foi obrigado a subir a taxa básica de juros (no nosso país a taxa básica de juros é a SELIC) na tentativa de conter a inflação, atrair investimentos e entrada de recursos no país.
Na última quarta-feira (15/06/2022), o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell anunciou um novo aumento da taxa básica de juros em 0,75 pontos percentuais (o maior aumento desde 1994). O Fed já vinha aumentando a taxa básica de juros ao longo desse ano, porém, esse último que elevou os juros do país para faixa de 1,5% a 1,75%, foi o “xeque mate” para derrubar o preço do Bitcoin.
Para se ter uma ideia, o acumulado dos últimos 12 meses do índice de preços ao consumidor nos EUA é o maior desde 1981, quando atingiu 8,9%.
Em síntese, com a elevação dos juros, os EUA conseguem derrubar o preço das ações na bolsa, aumentar a valorização do dólar e por conseguinte atrair mais investidores. E, todo esse movimento reflete diretamente no cenário macroeconômico e no mercado financeiro mundial, a exemplo do Brasil, onde o nosso Banco Central também teve que aumentar a taxa básica de juros (hoje em 13,25%), na tentativa de conter a saída de ativos para o mercado americano.
Assim sendo, a percepção global de insegurança econômica, levou as pessoas a procurarem investimentos de baixo risco (como os títulos da dívida pública americana) afastando-as dos investimentos de alto risco como é o caso das criptomoedas.
Tenho Bitcoin. Devo vender? É o momento de comprar? O que esperar para os próximos meses?
Se você tem Bitcoin, não venda. Como se diz no mercado financeiro, não seja “mão de alface”. Fique com seus Bitcoins que a longo prazo ele voltará a subir. Genericamente falando, o mercado é cíclico e pode passar por fases com total imprevisibilidade, a exemplo da pandemia do Covid-19 (que tanto pode elevar como diminuir o valor das moedas).
Com relação a comprar Bitcoin, minha sugestão é a de que sim, mas com moderação e de maneira fracionada. Quando me refiro a fracionada, é que você pode comprar um pouco hoje, aguardar mais um mês, analisar o mercado e comprar mais um pouco e assim por diante. Fazendo dessa forma, você minimiza os riscos lhe permitindo encontrar um ponto médio, caso queira ou precise liquidar seus ativos.
Recomendo isso não porque perdi a confiança nos criptoativos. Sugiro tal estratégia tendo em vista que segundo economistas e autoridades públicas americanas, a projeção é que a taxa básica de juros nos EUA encerre o ano de 2022 em 3,4% e um pico de 3,8% é esperado para o ano 2023. Traduzindo, isso basicamente quer dizer que o sentimento de insegurança econômica ainda perdurará com reflexo direto nos investimentos de alto risco.
Portanto, a resposta é sim. É possível esperar que o Bitcoin desvalorize mais seguindo o efeito cascata por contágio em razão de toda conjuntura macroeconômica atual.
Por fim, gostaria de frisar que minha análise não é pessimista, mas realista. Esta pode ser uma grande oportunidade de investimento para você que ainda não se inseriu no universo dos criptoativos.
Notem que o modelo baseado na tecnologia blockchain é o futuro de novos negócios, oportunidades e agilidade nas operações uma vez que temos total controle e liberdade do nosso dinheiro visto que não precisamos de intermediários (instituições financeiras) para realizar uma transação.
Acompanhe os próximos artigos, e entenda melhor esse universo, porque nem só de investimentos em Bitcoin vive o mercado dos criptoativos. Novos modelos de negócios que irão revolucionar a forma de comprar, pagar e consumir surgem a cada dia. As inovações trazidas a partir da tecnologia blockchain, por um processo de contaminação que perpassam o corpo do chamado homem-digital alterarão nossos hábitos cognitivos e o modo como vivemos.
Dúvidas, perguntas e sugestões nos comentários abaixo ou no e-mail mathias@nk7.com.br
Uma ótima semana a todos vocês!!!
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