Quando o jovem diretor Paul Thomas Anderson decidiu fazer Boogie Nights – Prazer sem Limites (1997), o publico conheceu os bastidores da indústria pornográfica americana, especialmente a que nasceu e se consolidou no San Fernando Valley, também conhecido como The Valley. Principalmente sobre as pessoas que ganhavam seu sustento, mostrando, atuando e filmando sexo. O filme foi um sucesso de crítica e mostrou ao mundo como Paul Thomas Anderson sabia lidar com a linguagem cinematográfica num filme com um tema complexo.
Já em 2001, outro jovem diretor, o francês Bertrand Bonello, escreve e conduz O Pornógrafo, a história de um diretor de cinema pornô, que havia abandonado a profissão para se dedicar à família. Anos depois, o aquecimento dessa indústria na França, vem a ideia de trazer o lendário diretor para seu grande retorno ao gênero de cinema que o consagrou.
Nenhuma dessas história é tão visceral Pleasure (Prazer), da jovem diretora sueca Ninja Thyberg. Ela havia feito uma extensa pesquisa sobre a indústria de cinema pornô para um trabalho que se transformou num curta-metragem em 2013. Curiosamente, Paul Thomas Anderson também adaptou seu curta The Dirk Diggler Story (1988), para o premiado Boogie Nights – Prazer sem Limites.
Pleasure, contudo, aborda o cinema pornô de uma forma mais intensa, através do olhar da jovem Jessica, brilhantemente interpretada por Solfia Kappel. Jessica chega à Los Angeles com um simples objetivo: se tornar uma porn star, uma estrela dos filmes adultos. Em sua ingenuidade, Jessica acredita que conseguirá em pouco tempo mostrar seu talento, especialmente porque diz a todos que está entrando nessa indústria em busca do prazer no sexo que não encontrou na Suécia.
O que ela ainda irá descobrir é que esse prazer sem limites não perdoa ingenuidades, que pagam um preço alto para entrar nesse circuito. E a diretora, que fez uma extensa pesquisa junto à várias produções adultas em Los Angeles, quer que o público acompanhe a jornada de Jessica para se tornar Bella Cherry, sem nenhum freio.
A cena que antecede seu primeiro trabalho é, no mínimo, angustiante, com Bella no banheiro do hotel, fazendo depilação com um aparelho de barbear. Segue sua primeira cena de sexo explícito com um ator experiente. À princípio ela reluta, fica nervosa, e sai do cenário (um sofá). Depois acaba voltando e realizando a cena até o fim. Não, nada explícito, a não ser os closes generosos das genitais.
É um filme sobre o sonho de uma jovem que quer ser atriz pornô e não um filme pornográfico. Esses recursos explícitos, são usados de modo a mostrar que o elenco escolhido para esse trabalho faz parte da indústria de filmes adultos.
Pleasure continua mostrando a jornada de Jessica nesse mundo complicado e que não gosta de dar chance a ninguém, se não houver um ganho real. É o que ela descobre de um modo radical, quando vai fazer sexo com dois parceiros. É algo inesperado para ela, que reclama, não quer filmar mais, mas descobre que não tem mais volta nessa jornada. Sofrendo e humilhada, ela completa o filme.
Não pense que o filme vai conduzir a personagem ao sucesso, realizando seu sonho. Ao contrário, a Ninja Thaberg escreveu o filme para mostrar com cores reais que esse mundo de sonho e desenho, nem sempre é tão fácil de chegar, ou mesmo, de conquistar. Todos os percalços passados por Jessica e sua Bella Cherry, são os passos que muitas jovens sonhadoras com o sucesso da tela prateada dão, mas acabam nem sentindo o gosto da frustração.
Pleasure é um drama que reflete as frustrações do dia a dia, da competição sem limites, ou da busca incansável de ser diferente e notada no mundo. O filme fez sucesso durante sua exibição nos festivais de cinema de Cannes e Sundance, ganhar o prêmio do júri do Festival de Cinema de Deauville, na França.
É um filme sobre uma ala da indústria cinematográfica que você pode não conhecer, mas depois de assistir Pleasure, não ficará indiferente…
O filme está disponível para os assinantes da plataforma MUBI.
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